sábado, 1 de agosto de 2009

Os Aventureiros, uma outra perspectiva

No seguimento do artigo anterior, trago para este blogue uma opinião diversa - e céptica - quanto à famosa lenda dos oito aventureiros lisboetas que, no tempo do domínio árabe, lançaram-se pelo Oceano fora, supostamente à descoberta. A opinião é de Garcia Domingues, ilustre historiador e filósofo arabista (infelizmente já falecido), em entrevista à revista Leonardo, dedicada à Filosofia (republicada recentemente):

L – Segundo as suas afirmações, as Descobertas não tinham qualquer finalidade? Nem a da constituição do V Império?

GD – Há uma mistificação da história das Descobertas, à qual estão a associar conotações políticas para justificar certa política anti-patriótica desenvolvida pelo Estado. Actualmente, os nossos dirigentes políticos têm vergonha de afirmar que fizémos a expansão, porque estão a encolher Portugal. Nós, Portugueses, estamos a voltar a casa, perdido o Ultramar. Não descobrimos nada. Não partíamos para resolver este problema: o que existe para além do mar? Nunca fizémos uma coisa destas. O que houve foi a expansão, um fenómeno de expansão. A primeira acção consistiu na tomada da Ceuta, uma vez que tinhamos chegado ao Algarve. Só depois, o Infante D. Henrique se instalou em Sagres, dando início às navegações até aos Açores e Madeira. O desejo de ultrapassar o território que possuíamos deu origem à expansão do domínio político, religioso e económico. Fomos à procura da cana-de-açucar, à procura do ouro e dos produtos exóticos. O que não significa que não houvesse pessoas que contribuíram para a expansão com a preocupação das Descobertas que resultam da ambição. É evidente que se fizeram algumas, mas foram sempre secundárias em relação às finalidades da expansão. As navegações determinaram o desenvolvimento das ciências naúticas e a invenção de instrumentos novos, como o nónio de Pedro Nunes. A expansão é algo de muito natural aos povos. Principalmente se há uma explosão demográfica…

L – No entanto, os Portugueses de Quinhentos não eram assim tantos…

GD – Certo. Mas as possibilidades da criar fontes de riqueza eram menores do que existem nos nossos dias. A expansão era encarada como uma possibilidade de vida.

L – Esse movimento não tinha uma finalidade superior?…

GD – Sim, de acordo, há uma finalidade, mas só foi percebida posteriormente pela história. É com a história que se formam as ideias nacionais e os ideais de um povo que, porventura, podem indicar uma finalidade. Por assim dizer, os povos nascem, crescem e morrem. Criam uma espécie de força própria. Entre nós, foi a força expansiva. Mas essas ideias mudam, embora se verifiquem determinadas constantes. Já existiam povos no território antes da formação de Portugal, mas só no século XV surgiu a vocação da marinhagem.

L – Os árabes contribuíram para essa gesta?

GD – Essa influência foi diminuta. Os árabes preocupavam-se bastante com os limites geográficos dos territórios e da astronomia, e os seus conhecimentos foram úteis às navegações. A propósito recordo aos senhores, a famosa lenda dos Aventureiros de Lisboa segundo a qual navegadores árabes aventuraram-se no mar oceano, procurando o seu fim. É mentira. No século XI, após as invasões normandas, o Amir de Córdova ordenou a constituição de uma poderosa esquadra muçulmana, sediada em Sevilha, que começou a ser construída em diversos pontos da região compreendida entre Almeria e Huelva. Por essa altura, formou-se na Alfama de Lisboa um núcleo de resistência aos normandos. A sua acção consistia na vigilância costeira assinalando a passagem dos barcos que pretendiam atacar populações do Sul. É claro que nessas missões, digamos assim, de espionagem, alguns navios tanto se afastaram da costa que se perderam. Um desses almirantes deu com as Canárias. Deste modo, nasceu a ideia lendária de que os navegadores partiam para encontrar o mar com fim. Mas essa não foi uma preocupação real. A ideia de expansão e de navegação surgiu mais tarde, já com o território português definido. Os Portugueses foram navegadores e marinheiros. Quanto ao Quinto Império tenho a dizer o seguinte: um mito! Trata-se de uma magicação do Padre António Vieira que não corresponde a coisa alguma.



É notório o cepticismo (relativo) de Garcia Domingues quanto à influência árabe em Portugal, a que não escapa o episódio dos Aventureiros (como o próprio reconhece na entrevista, soava bastante anti-árabe... para um arabista). Quanto ao referido episódio, contraria muito do que registou Idrisi vários séculos antes (e poucos depois do sucedido), o que não deixa de ser estranho. A rota seguida pelos Aventureiros, a ser verdadeira, não é coerente com a tese apontada (salvo manifesta azelhice dos marinheiros em causa). Por outro lado, não se entende a completa omissão quanto à ameaça normanda, que existiu de facto (profusamente documentada em outras fontes).
Quanto ao real desejo dos marinheiros, concordo, nem Idrisi nem nós podemos garantir que desejavam descobrir e conhecer. Quem sabe, não tenha sido aquela história, uma fanfarronice dos "Mugharrirun"? Não seriam os primeiros navegantes a fantasiar sobre as suas viagens!

Talvez tenhamos um problema de fontes, hoje conhecidas, mas às quais provavelmente Idrisi não teve acesso directo. Ou então, alguma confusão. Há outra lenda (?) que fala da viagem de um tal Khaskkash, almirante da esquadra omíada (este sim, com provas dadas contra os normandos) que, partindo da Andaluzia, terá atravessado o Oceano, supostamente atingindo outro continente, para além das Canárias. Haverá relação entre as histórias? Quem sabe...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Os Aventureiros, precoces descobridores alfacinhas

Mais de 300 anos antes dos Descobrimentos, e das famosas partidas da praia do Restelo, houve oito lisboetas que se lançaram ao mar, animados pela mesma vontade de descobrir. Assim nos conta Muhammad [Maomé] Al-Idrisi (ou simplesmente, Edrisi), notável geógrafo do século XII, a propósito da sua descrição da cidade de Lisboa:

«[...]

Lisboa está construída na margem setentrional do rio Tejo; é aquele sobre o qual está localizada Toledo. A sua largura depois de Lisboa é de 6 milhas, e a maré faz-se ressentir violentamente. Esta bela cidade que se estende ao longo do rio, está limitada por muralhas e protegida por um castelo. No centro da cidade há fontes de água quente tanto no inverno como no verão.

Situada nas proximidades do Oceano, esta cidade tem à sua frente, na margem oposta, o forte de al-Ma’dan [Almada], assim designado porque o mar lança grãos de ouro na margem. Durante o inverno os habitantes da zona vão junto do forte à procura deste metal e isto dura até que acaba a estação rigorosa. É um facto curioso que nós mesmos testemunhámos [prova da presença de Idrisi em Lisboa].

Foi de Lisboa que partiram os Aventureiros, aquando da sua expedição tendo como objecto de saber o que continha o Oceano e quais eram os seus limites, como já foi dito. Existe ainda em Lisboa, perto dos banhos quentes, uma rua que se chama Rua dos Aventureiros.

Vejamos como a coisa se passou: eles reuniram-se ao número de oito, todos parentes próximos; e depois de terem construído um navio mercante, embarcaram água e víveres em quantidade suficiente para uma navegação de vários meses. Lançaram-se ao mar ao primeiro sopro de vento de este. Depois de terem navegado durante onze dias ou cerca disso, chegaram a um mar cujas ondas compactas exalavam um odor fétido, escondiam numerosos recifes que eram difíceis de ver. Temendo o perigo, mudaram a direcção das suas velas, correram para sul durante doze dias, e alcançaram a ilha dos Carneiros, onde numerosos rebanhos pastavam sem pastor e sem pessoa para os guardar.

Tendo posto pé nesta ilha, encontraram uma fonte água corrente e perto daí uma figueira selvagem. Apanharam e mataram algumas ovelhas, mas a carne era tão amarga que era impossível de comer. Só aproveitaram as peles. Navegaram ainda doze dias para sul e encontraram enfim uma ilha que parecia habitada e cultivada; aproximaram-se a fim de saber o que era; pouco tempo depois foram envolvidos por barcas, feitos prisioneiros e conduzidos a uma cidade situada no litoral. Desceram e foram conduzidos a uma casa onde viram homens de alta estatura e de cor alaranjada- avermelhada, que tinham pouca barba e mantinham os cabelos longos (não frisados), e as mulheres que eram de uma rara beleza. Durante três dias ficaram prisioneiros numa divisão desta casa. O quarto dia viram vir um homem falando uma língua árabe, que lhes pergunta o que eles eram, porque é que tinham vindo, e qual era o seu país. Eles contaram-lhe a sua aventura; aquele dá-lhes boas esperanças e fez-lhes saber que era um intérprete do rei. No dia seguinte foram apresentados ao rei, que lhe faz as mesmas perguntas e ao qual eles responderam, como já tinham feito no dia anterior ao intérprete, que se tinham aventurado ao mar para saber o que poderia ter de singular e de curioso, e a fim de constatar os seus limites extremos.

Logo que o rei os ouviu assim falar pôs-se a rir e disse ao intérprete: «Explica a esta gente que o meu pai tendo outrora prescrito a alguns dos seus escravos a embarcarem neste mar, eles percorreram-no, em largura, durante um mês, até que, a luz (do céu) lhes faltou, eles foram obrigados a renunciar a essa vã empresa. O rei ordena depois ao intérprete de transmitir aos aventureiros uma magnanimidade da sua pessoa, de forma a que eles ficassem com uma boa opinião dele, o que foi feito. Eles voltaram então à sua prisão, e aí ficaram até que um vento de oeste se elevasse e tapando-lhe os olhos, fê-los entrar numa barca e navegaram durante algum tempo no mar. «Nós andámos», disseram eles, «cerca de três dias e três noites, e atingimos de seguida uma terra onde nos desembarcam, com as mãos atadas atrás das costas, numa praia, onde fomos abandonados. Aí ficámos até ao nascer do sol, no mais triste estado, por causa das faixas que nos apertavam fortemente e nos incomodavam bastante; por fim, tendo ouvido ruído e vozes humanas, nós pusemo-nos a gritar. Então alguns habitantes do país vieram até nós, tendo-nos encontrado numa situação tão miserável, desataram-nos e fizeram-nos numerosas questões às quais nós respondemos pela narração da nossa aventura. Eram berberes. Um de entre eles disse-nos: «Vós sabeis qual é a distância que vos separa do vosso país?» E à nossa resposta negativa, ele acrescenta: «Entre o ponto onde vós vos encontrais e a vossa pátria há dois meses de caminho». O chefe dos aventureiros disse então: wâ asafi (interjeição de desespero: «!»); é por isso que o nome deste lugar ainda hoje é de Asafî. É o porto de que já falámos como estando na extremidade do ocidente.»


Neste texto de Idrisi encontramos, sem dúvida, muito do que veio a contribuir para a gloriosa época dos Descobrimentos, ainda que de forma indirecta. E é curioso e interessantíssimo o facto de terem sido lisboetas os tais Aventureiros, antecessores em façanhas (mas muito dificilmente, antepassados) dos intrépidos navegadores portugueses.

É comum reduzir a importância dos Descobrimentos a saber quem descobriu o quê pela primeira vez (e com isso, frequentemente, reduzir a importância das próprias Descobertas). Nesse sentido, o texto de Idrisi é mais uma peça para o “puzzle”. Não parece suscitar dúvidas que os Aventureiros terão chegado às Canárias, bem como, com grande probabilidade, à Madeira e/ou aos Açores (que tenham chegado à Grã-Bretanha/Irlanda ou à América, como suspeitam alguns, é pouco provável). Mas é também quase certo (por outras fontes) que qualquer um daqueles arquipélagos já teria sido visitado desde os tempos dos romanos, dos fenícios, ou por outros, anteriores àqueles (quem sabe?).
A meu ver, não ficam em causa os respectivos Descobrimentos (Séc. XV), na acepção que considero da palavra. Uma coisa é “achar”, outra é revelar para o Mundo (revelando o Mundo para os “achados”, nalguns casos). E assim, também a meu ver, a época dos Descobrimentos foi mesmo uma época de descobertas, talvez só igualada em importância pela remota (milenar e longuíssima) época em que os seres humanos, partido de África, foram descobrindo pela primeira vez todos (ou quase todos) os recantos deste mundo. Os portugueses redescobriram-no, redescobrindo e pondo em contacto todos (ou quase todos) os descendentes dessa antiquíssima diáspora africana. Como já alguns arriscaram afirmar… iniciámos a globalização (pelo menos a uma escala intercontinental, enfim, planetária).

Voltando à viagem dos Aventureiros, não se sabe com exactidão quando terá acontecido. Que terá sido anterior a 1147, data da conquista da cidade de Lisboa pelos portugueses, é garantia óbvia. Poderá ter acontecido nos séculos imediatamente anteriores a este relato (X, XI), pois o geógrafo deixa entender que a história era antiga (?). A título de curiosidade, ainda estava Idrisi concluindo as suas obras e já a Lisboa que descrevia (e visitou, de facto) tinha fechado aquele capítulo da sua história (domínio árabe) para sempre…
Por outro lado, Idrisi dá-nos a idéia que a história dos Aventureiros seria bastante popular e talvez até afamada além Al-Gharb (o ocidente da Península Ibéria conquistada), embora seja de sua autoria a única fonte até hoje conhecida. É certo que muitas fontes se terão perdido com a Reconquista, mas Idrisi indica que os Aventureiros eram gente comum, pelo que é natural que as suas aventuras tenham ficado gravadas “apenas” na voz do povo. Isso até 1147, embora não tivesse de ser, obrigatoriamente. De facto, muita coisa permaneceu da memória colectiva da Lisboa árabe, em especial da sua comunidade moçárabe (cristãos arabizados - se seria a maior da cidade, é discutível, mas que seria bastante numerosa, sem dúvida).

Quanto à identidade dos Aventureiros, não ficaram os nomes (sendo gente comum, é o mais natural), mas refere Idrisi a sua recordação na toponímia, em rua (ou ruela, mais provavelmente) lá para os lados de Alfama (pela referência aos banhos quentes). Lembraria a rua o local onde viviam (portanto, em Alfama)?

Apesar de tratar-se de gente comum, estou em crer que não seriam moçárabes (sem prejuízo de terem alguma origem moçárabe) mas sim “mouros” autênticos – que os havia em Alfama, estando os moçárabes afastados do centro, nos respectivos arrabaldes (embora também se dedicassem ao mar, sem dúvida). De qualquer forma, com a definitiva reconquista cristã da cidade, perdeu-se o nome da rua e também se perdeu a memória daquela aventura, reforçando a minha laica tese de que não seriam moçárabes, pois estes ainda conseguiram manter vivas muitas tradições – veja-se as raízes moçárabes da lenda de S. Vicente. A própria Alfama terá sido despida da “mourama”, depois confinada à Mouraria (ou expulsa para sempre da cidade, provavelmente).

Li algures que os oitos aventureiros seriam afinal oito fugitivos cristãos (incluindo um Arcebispo e vários Bispos), que teriam feito a viagem por altura da conquista árabe de Lisboa (Séc. VIII). Desconheço por completo fonte credível que o confirme, para além de que a versão de Idrisi é quase totalmente incompatível com tal versão (tal fuga só poderia ter corrido pior se tivessem acostado ao Egipto ou à Palestina!).
Seria a versão de Idrisi uma deturpação de uma estória original cristã ou moçárabe? Sinceramente, não me parece. Talvez esta versão, essa sim, possa ter resultado de deturpação posterior, de algum escriba português, que tendo ficado a conhecer a lenda dos Aventureiros, a “cristianizou” (fruto de preconceito que ainda hoje sobrevive).

Não há evidência que ligue directamente a viagem dos Aventureiros à origem dos Descobrimentos, mas sim, muita coisa em comum (digamos que uma ligação indirecta muito forte!). Se as próprias obras de Idrisi não eram bem conhecidas à época dos Descobrimentos (parece que não), algumas das suas fontes talvez, bem como fontes árabes contemporâneas que sim, talvez conhecessem a obra. Mas a viagem dos Aventureiros, em concreto, só nos aparece revelada e relembrada séculos mais tarde (com a redescoberta das obras de Idrisi).

Comum é o desejo, de saber “o que continha o Oceano e quais eram os seus limites”. Razões políticas, estratégicas ou religiosas aparte, sempre acreditei que uma das principais motivações dos Descobrimentos teria sido aquela curiosidade, que era mais do que científica. No Mediterrâneo, tudo era conhecido e (relativamente) pacífico. Para os que chegavam ao Ocidente (da península Ibéria ou Magrebe), fenícios, romanos e árabes, o Atlântico era estranho, aterrador, avassalador. Na verdade o Oceano para esses não era um mar maior (que o Mediterrâneo, nomeadamente), mas uma antecâmara das orlas do mundo, onde não havia mais terra, para além das quais não valia a pena ir, sobretudo porque não havia a opção de regressar (acreditavam). O próprio Idrisi, mesmo admitindo a existência das tais ilhas (mesmo em grande número), não se convenceu do contrário:

«O oceano rodeia os limites terrestres e tudo para além daí é desconhecido. Ninguém foi capaz de verificar o que quer que fosse, devido às dificuldades e perigos da navegação, a sua grande obscuridade, profundidade e tempestades frequentes; devido ao medo dos peixes monstruosos e terríveis ventos; no entanto existem muitas ilhas, umas com gente e outras desabitadas. Nenhum marinheiro se arrisca a entrar nessas águas profundas, e se alguns o fizeram, foi percorrendo ao longo das costas terrestres, receosos de se afastar demasiado. As ondas deste oceano, embora movendo-se com altura de montanhas, mantêm-se inteiras e sem se quebrar, porque se se quebrassem, seria impossível para um barco ultrapassá-las»


Assim se conformava quem cá chegava, ou quem por cá passava (diga-se que Idrisi acaba por não ser muito animador para futuros exploradores). E quem cá ficou?
Para quem habitou e habita esta “Ocidental Praia”, viver de frente para o fim do mundo (e de costas para o dito) era (e é) pena difícil de conformar. Os Aventureiros, como outros depois deles (e também antes) sentiram tal angústia. Imbuídos do tal espírito de “Mugharrirunes”, fizeram-se ao mar.

Embora nunca venhamos a saber exactamente quem eram aqueles heróis, a cidade de Lisboa ainda hoje os lembra, não em Alfama, mas no actual Parque das Nações, onde foi aberta uma nova “Rua dos Aventureiros” (Idrisi ficaria perdido!).

Por ironia do destino, a Ceuta natal de Idrisi também seria conquistada pelos portugueses (1415), tomada essa que marcou o início da nova gesta, de novos aventureiros lisboetas (ler neste mesmo blogue, sobre a origem da bandeira de Lisboa… e da de Ceuta, desde então e até hoje imagem da primeira).

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Canja, Laranjas e as Descobertas (da China)

Se os árabes trouxeram a cultura da laranja para a Península Ibérica? É correcto (originária da Pérsia). Então como se explica que em grego, turco, em árabe e até mesmo em persa (!) a laranja comum seja conhecida como "portugal" ou "portuguesa" nas respectivas línguas?
Saiba-se que foram os portugueses que trouxeram a laranja doce da China, no tempo das Descobertas, tendo esta substituído em grande medida a laranja amarga, essa sim, já previamente conhecida em quase todo o Mediterrâneo. O mais fascinante é como turcos, persas e árabes, estando mais perto da China, não a conheciam. Para que se veja como foi revolucionária a viagem de Vasco de Gama...

E a mui portuguesa canja de galinha? Afinal também veio da China... e o nome, do chinês ("congee")!
Embora na Ásia possa ter mais ingredientes, e consistência variando entre a sopa e espessa papa, a base é a mesma (arroz cozido). Graças às Descobertas, um prato que seria exclusivamente asiático também se tornou "tradicional" em Portugal (e depois, no Brasil, por razão óbvia). Por outro lado, o uso da canja para retemperar e recuperar de convalescenças, também é igualzinho, em Portugal e na Ásia!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Morreu João Bénard da Costa

Deixa saudades e um labor notável em prol da Sétima Arte (da cinefilia em particular, mas não só).

Em 2006 noticiámos o ciclo "Como o Cinema era Belo" (aqui). Associado a esse ciclo ficou-nos o livro, obra de Bénard da Costa, que recomendo vivamente.
Contagiou-nos a sua paixão, nós agradecemos. Até sempre!


A notícia:
http://www.tvi24.iol.pt/cinema/joao-benard-da-costa-morte-cinema-cinemateca-google/1065216-4059.html

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Os 50 anos do Cristo-Rei

A minha singela homenagem ao cinquentenário monumento que, estando em Almada, tornou-se num dos símbolos da região de Lisboa. A imagem abaixo foi extraída do filme de uma outra inauguração, a do Estádio do Restelo, casa do meu querido Belenenses - em 23 de Setembro de 1956:




Repare-se como era diferente a paisagem: ainda não havia ponte, e do monumento ao Cristo-Rei ainda (ou já, considerando a data) só existia o "pedestal".
Permitam a nota de um adepto Belenense. Na esplêndida vista que temos do nosso estádio, o Cristo-Rei também se tornou especial companheiro de tantas jornadas. Por graça (sem malícia) diz-se que os braços abertos estão à espera do Belenenses novamente campeão para bater palmas...

Ao falar no Cristo-Rei é icontornável a referência e inspiração do Cristo Redentor do Corcovado, no Rio de Janeiro. No entanto, em território português, outro monumento vem à minha memória - o Cristo do Garajau (Madeira). É mais modesto (em tamanho, note-se), mas mais antigo. Foi inaugurado em 1927 (4 anos antes do Cristo "carioca"):




Sobre o Cristo do Garajau podem encontrar mais detalhes (e a foto) aqui. De recordar que, durante décadas, o monumento do Garajau era visível a praticamente todos os que chegavam à Madeira (uma vez que o faziam por barco).

E para terminar, uma imagem actual do monumento "anivesariante":


terça-feira, 12 de maio de 2009

Memórias musicais de Lisboa: A estreia de Tristão e Isolda

Em mais uma visita ao Arquivo Fotográfico Municipal online, lembrei-me de pesquisar pelo termo "ópera". Não são muitos os resultados (há acervos da especialidade melhor dotados, naturalmente), mas ainda assim suficientes para iniciar estas "Memórias".

Portugal sempre esteve (e está) na periferia da Europa "operática" (ou artística em geral, na verdade). No entanto, tal não impediu (nem deveria impedir) a passagem de grandes artistas por Lisboa, em representações memoráveis (não raras vezes com excelente acompanhamento de artistas portugueses).
Aqui temos dois desses artistas, Cecilia Gagliardi e Francesc Vinyas (nome em catalão actual), fotografados em Lisboa (1908) como Tristão e Isolda (Wagner):



Chamou-me a atenção a peculiar indumentária "wagneriana", em versão de início do Século XX, mais que tudo.
Porém, ao tentar pesquisar algo mais sobre estas fotos, segui o "fio" de um episódio histórico...

Acontece que a apresentação do "Tristão" em 1908 foi a sua estreia absoluta em Portugal... nada mais nada menos que no dia 1 de Fevereiro, em que foram assassinados no Terreiro do Paço o Rei e o Príncipe Real (seguindo-se a execução dos atiradores). Estava aliás prevista a presença da Família Real nessa estreia, no Teatro de São Carlos, o que obviamente não se verificou. Quanto à estreia, não sei ao certo se acabou por ser naquele dia ou nalgum dia seguinte, mas aconteceu.

Quanto a Vinyas (nascido na Catalunha) e Gagliardi (nascida em Roma), alcançaram fama nesse tempo, deste e do outro lado do Atlântico. De Vinyas há registos sonoros, editados em disco. De Cecília Gagliardi, parece que não. Se não me falha a fonte, Puccini escreveu a Toscanini para que Gagliardi fosse a primeira Fanciulla del West na estreia europeia da obra (prevista para ser em Roma - a estreia absoluta foi no "Met" de Nova Iorque). Tal acabou por não acontecer, pois Gagliardi comprometeu-se como "Aïda", noutra produção (Verdi).
Finalmente, penso que já terá dado para perceber que o primeiro "Tristão" de Lisboa foi cantado... em italiano! No São Carlos, e até esse mesmo ano, era essa a regra...

Fonte:
Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sobre a bandeira de Lisboa

A bandeira de Lisboa, tal como "definitivamente" estipulado em 1940 por proposta da Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, é assim descrita:
Gironada de branco e negro de oito peças [os "triângulos"], com o brasão de armas sobreposto. Cordões e bolas de prata e negro. Haste e lanças douradas [estandarte]. Como a peça principal das Armas é o barco, que é de prata e negro, a bandeira é branca, representando a prata, e a negro.


Quanto ao brasão:
Armas de ouro, com um barco exteriormente de negro realçado de prata, e interiormente de prata realçado de negro, mastreado e encordado de negro, com uma vela ferrada de cinco bolsas de prata. A proa e a popa rematadas por dois corvos de negro afrontados. Leme de negro realçado de prata. O barco assente num mar de sete faixas onduladas. Coroa mural de ouro de cinco torres. Colar da Torre e Espada. Listel branco com os dizeres ‘Mui Nobre e Sempre Leal Cidade de Lisboa’ a negro.




Aquela que é hoje a bandeira municipal do Concelho de Lisboa tem origens antigas, entrelaçadas com alguns dos mais importantes momentos da história da cidade (e em simultâneo, do País) mas também, inevitavelmente, com as referências religiosas que marcaram aqueles acontecimentos e a própria sociedade, ao tempo em que ocorreram.
Na revisão de 1940, após séculos de sucessivos golpes de "heterodoxia", pretendeu-se um regresso à heráldica original, na medida do possível, para - entre outras razões - preservar os significados originais. Por esta mesma razão, que é válida quanto baste e porque esse regresso foi, em larga medida, conseguido, não irei tratar aqui da evolução dos símbolos, entendida como um prolongado e sinuoso desvio... ainda que de inegável interesse (para outra ocasião e outra perspectiva).

Mas, ainda antes de passar às origens, permitam um pequeno e leve comentário sobre o aspecto visual da bandeira, e o que suscita. Desde logo, uma cor parece ter predomínio estranho, se ignorarmos origens e significados: o negro (se não reparou, leia de novo a descrição inicial e conte).
Para uma cidade poética e insistentemente associada à luz, à claridade, o negro apela para as suas sombras, para os seus recantos, para a noite... ou para o luto. E por luto... estão lá os corvos, fúnebres sentinelas que acompanham os restos mortais do Santo.
Temos um contraste entre o que em Lisboa se contrasta, mas também se complementa: a alvura da cidade, do seu casario, e das igrejas; mais o negro da estimada e afamada melancolia, cantada em fados, entre outros tratos. A aparência e o sentir.
Se olharmos para as origens, porém, nada disso importa. Poder e Fé, por esta ordem, falam mais alto. Afinal, não é do que tratam as bandeiras?

Sendo certo que sofreu várias transformações pelo caminho (as quais não vou tratar neste artigo, repito), pode dizer-se com alguma segurança que a actual bandeira de Lisboa tem origem naquela que terá surgido após a "revolução" ou "crise" de 1383-1385 (conjunto bandeira e brasão, note-se, pois o brasão é anterior). A melhor prova temo-la na bandeira de Ceuta, cidade que mantém desde a sua conquista (1415) até hoje uma bandeira igual à de Lisboa (com excepção do brasão, que no entanto é o de Portugal). Reza a crónica de Azurara que, uma vez tomado o bastião magrebino, El Rei D. João I pediu (ou ordenou) a João Vasques de Almada que colocasse a bandeira da cidade de Lisboa, que este trazia, no alto do Castelo (supostamente à falta de estandarte real). De notar o significado particular deste acontecimento para o estatuto da cidade de Lisboa, em novo contexto histórico.

Que o brasão - de S. Vicente - tem origem anterior, é certo, e já lá vamos. Mas, sobre a bandeira propriamente dita ("gironada" de negro e branco), consta que foi o próprio João da Regras que sugeriu o formato, à imagem do escudo da Ordem de São Domingos, por ter sido no importantíssimo e central mosteiro daquela ordem que o povo de Lisboa aclamou o Mestre como "Regedor e Defensor do Reino". Com efeito, as oito peças negras e brancas estavam no escudo da Ordem de São Domingos (também conhecida como Ordem dos Pregadores). E lá continuam, até hoje...
Quanto à relação entre o Doutor João das Regras e a Ordem de S. Domingos, há mais que contar.
Como uma de várias recompensas pelos serviços prestados, D. João I doou ao jurista os terrenos da Quinta de São Domingos, onde viria a erguer a igreja de São Domingos de Benfica, onde aliás estão ainda hoje os restos mortais de João das Regras. Não bastando isto - mas é facto menos divulgado - saiba-se que foi na cidade de Bolonha (onde João das Regras se formou) que faleceu o próprio São Domingos, pouco mais de 150 anos antes. Isto depois de ter tornado aquela cidade uma verdadeira "capital" daquela ordem. Acasos? Não creio, seguramente.
Devemos às andanças de João das Regras por Bolonha o facto de termos a bandeira negra e branca? E, algures no Largo de São Domingos e actual igreja, poderemos recordar o local inspirador...


Escudo da Ordem de S. Domingos (ainda actual)


Passo então à origem do brasão... sumariamente, pois há abundante literatura, como houve abundantes variações do mesmo, ao longo destes séculos.
A famosa barca de São Vicente, com os corvos, é símbolo que remonta aos primeiros tempos da cidade após a conquista aos mouros, mais concretamente ao momento em que chegaram as relíquias do Santo à cidade (1173) - assunto que tenho abordado com frequência neste blogue. Tendo em conta que o primeiro foral foi concedido em 1179, terá sido por esta altura que o Concelho foi autorizado a utilizar os símbolos vicentinos no selo da cidade - do qual chegou até nós um exemplar datado de 1233.
É de lembrar que a intenção de Afonso Henriques, de resgatar as relíquias, era anterior à conquista de Lisboa, e poderia ter favorecido Braga ou Coimbra. No entanto, goradas as anteriores tentativas, coube a sorte a Lisboa. Segundo relato coevo (os Miracula Sancti Vincentii, escritos entre 1173 e 1185), foi o próprio São Vicente que teve "preferência" por Lisboa, um "milagre" (a par de outros) com significado bem mais terreno (ver Picoito, 2008):

(...) porque a ele [S. Vicente] lhe aprouvera ser venerado de preferência pela gente de Lisboa e a intenção do rei era, pelo contrário, depositá-lo em Braga ou em Coimbra, já que a misericórdia divina ainda não lhe entregara Lisboa (...)

Por intervenção sobrenatural ou não, não se deu o caso (ou acaso), com o qual S. Vicente, os corvos e a barca ficariam arredados da história e dos símbolos lisboetas (estariam presentes em Braga ou Coimbra?).


O Selo de 1233


Das múltiplas variações que sofreu o brasão, há que referir que a dado momento poderá ter incluído a imagem do próprio Santo. Assim sugere um documento relativo à escolha do santo padroeiro da cidade do Funchal, por exemplo, onde se refere expressamente que o dito padroeiro (São Tiago Menor, o ápostolo) deve figurar no brasão da diocese tal como São Vicente figurava então na bandeira de Lisboa. Ou seria apenas na bandeira da diocese? Teixeira de Carvalho e Virgílio Correia, nos seus "Subsídios para a História da Arte Portugueza" (1922), referem:

A Bandeira de Lisboa no Reinado de D. João I tinha huma pintura de S. Vicente, Protector da nossa Capital e consta que esta Bandeira fora arvorada por João Vasques de Almada no Castello de Ceuta, quando o mesmo Rei tomou aquella Cidade.
E até 1383, teve a cidade alguma bandeira? Há quem assegure que sim, e é muito provável. Na própria "Crónica de D. João I", de Fernão Lopes, temos referências a bandeiras "regionais", empunhadas em plenas pelejas - não só da cidade de Lisboa, mas também de várias vilas de Portugal (como a de Elvas, por exemplo). Não parece que tal costume fosse uma das inovações militares da época.
Mas quando é que essas bandeiras primeiro apareceram, a par de bandeiras senhoriais, bandeiras das ordens militares, religiosas e, enfim, da bandeira régia? Fica a questão em aberto.
E antes da reconquista cristã (nos períodos muçulmano e romano, por exemplo)? Que símbolos teve a cidade? É outra questão em aberto... sem quaisquer vestígios até à data que permitam esboçar uma resposta.

Quanto ao brasão (esse sim, anterior), também há quem fale num corvo (não dois)... e uma águia. É curioso, pois as lendas falam de um corvo apenas... quer a lenda do martírio (em Saragoça), quer certas versões da lenda da viagem das relíquias (desde o Algarve até Lisboa). Não cabe aqui aprofundar a questão dos corvos e respectiva simbologia (tema vastíssimo!). Já referimos a origem que consideramos verosímil e fiável, por ratificação ou ordem de Afonso Henriques, mas temos também bastantes provas da utilização "pública" daqueles símbolos nas décadas seguintes. A lápide do Chafariz do Andaluz (1336) é talvez a mais importante (das ainda hoje existentes) e a evidente semelhança com o actual símbolo reforça, uma vez mais, que a revisão de 1940 significou um regresso às origens. Nesta ocasião refere-se expressamente que o modelo naval utilizado "deve figurar como uma estilização das linhas gerais de um barco e não como um tipo de construção naval de acordo com o desejo de cada época" (após a utilização dos mais variados tipos, desde galés romanas a naus, caravelas e galeões - por aquele andar hoje teríamos fragatas?). Assim, a semelhança com o Chafariz é involuntária? Ou teve a mesma idéia - feliz, diga-se - o escultor de 1336?
Quanto aos corvos... são dois, pois.


Pormenor do Chafariz do Andaluz (1336): a referência


Como referi no início, dois momentos importantes da história de Lisboa inspiraram a bandeira da cidade. O primeiro, de conquista, derrota do poder mourisco, consolidação do Reino de Portugal, afirmação do Rei entre a Cristandade, consagração de Lisboa - "reconvertida" - à mesma Cristandade, conciliando a fé antiga de moçárabes e portugueses, sob os auspícios de São Vicente.
Quanto ao segundo momento, temos grandes diferenças, mas igual peso na história. Trata-se de outra "era" que começa, como refere Fernão Lopes, algo que tem tido múltiplas interpretações (e não raramente equívocas do ponto de vista histórico). Mas, para o caso de Lisboa, penso que não erraremos muito ao considerar que a crise de 1383-85 ficou marcada pela afirmação da cidade, do seu poder, e pela firme determinação dos lisboetas, sem as quais teria fracassado o movimento do Mestre, Nun'Álvares, João das Regras, Álvaro Pais e respectiva companhia. Ali, com a benção de S. Domingos de Gusmão e dos seus frades, de negros mantos (a condizer).
Se no primeiro momento tivémos conquista, no segundo tivémos defesa. Conquista e defesa de Lisboa, mas também conquista e defesa da independência de Portugal.

Gostaria ainda de mencionar alguns outros aspectos e momentos históricos associados à bandeira de Lisboa. Já referi o episódio de Ceuta, que tomou bandeira semelhante e a manteve, mesmo depois de 1640. E por falar em 1640, logo após o sucesso dos conjurados, no Paço (e para mal do Vasconcellos), foi o povo invadir o Senado de Lisboa, onde o respectivo presidente lhes entregou a bandeira da cidade, para proceder à proclamação do novo rei (D. João IV).
Outro facto, bem mais recente, é relacionado com a "reforma" da heráldica municipal efectuada nos anos 30 do Século XX. Foi com base na bandeira de Lisboa - e portanto, indirectamente, no brasão dos dominicanos - que ficou estabelecido que todas as bandeiras municipais (municípios cuja sede seja cidade) deveriam ser também "gironadas", com as mesmas partes (com cores próprias, naturalmente). A centenária bandeira foi modelo para todas as outras...


A bandeira de Ceuta



Fontes:
Margarida Fragoso, "O Emblema da Cidade de Lisboa", 2002
Pedro Picoito, "A Trasladação de S. Vicente. Consenso e Conflito na Lisboa do século XII", Revista Medievalista, nº4, 2008
Marina Tavares Dias, "Lisboa Misteriosa", 2004
Teixeira de Carvalho e Virgílio Correia, "Subsídios para a História da Arte Portugueza - Collecção de memorias (...)", 1922


Online:
Câmara Municipal de Lisboa (http://www.cm-lisboa.pt/?idc=2)
Bandeiras (http://www.tuvalkin.web.pt/terravista/Guincho/1421/bandeira/pt-lsb.htm)
Igreja de São Domingos (http://www.isdomingos.com/index.asp?art=6534 )

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O DL no DN

Fomos contactados para entrevista, mas não deu (má altura para nós). Mesmo assim, este nosso blogue teve direito a menção - para nós honrosa, para mais em ilustre companhia "blogueira" - em artigo publicado por Rui Pedro Antunes no Diário de Notícias:

Agradecemos a atenção!
Quanto ao recorte, tomámos a liberdade de obtê-lo no incontornável Cidadania LX.

Link para a referência "online": http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1213293

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O DL recomenda: em Beja

Tem muito para ver a cidade de Beja (e arredores). Para os amantes de história, porém (e excluindo os ditos arredores, por agora), convém anotar:

Museu Regional de Beja (Museu Rainha D. Leonor) - não esquecendo o Núcleo Visigótico, instalado na Igreja de Santo Amaro

Espaço Museológico da Rua do Sembrano

Este último espaço é uma "janela" aberta para uma pequena parcela do subsolo da cidade: caminhando sobre o chão de vidro resistente é possível vislumbrar as ruínas postas a descoberto. Uma dessas ruínas, curiosamente, veio contribuir para a falência de uma "certeza" tradicional da história de Beja. Até há relativamente pouco tempo acreditava-se que Pax Julia teria sido uma cidade fundada pelos romanos, de raiz. Contudo, foi encontrada e identificada naquele local parte de uma espessa muralha pré-romana... sinal inequívoco da existência da cidade antes dos romanos, em algum momento da chamada Idade do Ferro.

Assim sendo, também o estudo da romanização e proto-história de Beja pode dizer muito sobre igual momento da cidade de Lisboa. Parece ser ponto assente que, logo após a derrota de Viriato, surgindo a empresa de Décimo Júnio Bruto a partir de Lisboa (que "fortificou"), o território a Sul do Tejo já não deveria constituir problema para os romanos.
Seria Beja parte de um território amigável - região "tartéssica" ou "cónia" - que afinal de contas também respirou de alívio com o fim de Viriato (e antes, dos Cartagineses)?
Serão aqueles vestígios da própria Conistorgis, cidade principal dos Cónios, destruída pelos Lusitanos? Ironicamente, talvez o tempo o diga...

terça-feira, 28 de abril de 2009

Apontamentos sobre a História de Lisboa (IV): Lisboa romana

Se quanto à origem e fundação de Lisboa subsistem muitas dúvidas, já sobre a presença dos romanos a informação, ainda que por vezes imperfeita, é bem mais rica.
Mas ainda antes de passarmos ao início da "romanização" de Lisboa, vale a pena tentar (e é mesmo tentar!) recontruir o cenário "pré-romano", aproveitando para tal alguns dos elementos anteriormente apresentados.

Há questões intrigantes que merecem atenção. Porque é que a cidade de Lisboa, aparentemente, terá sido uma das primeiras e principais aliadas dos romanos? Qual o papel de Lisboa nas Guerras Púnicas, que opuseram os romanos a cartagineses? Qual a caracterização de Lisboa no seio de um variado grupo de povos de diversas origens (Lusitanos, Túrdulos, Célticos, Cónios, Turdetanos, entre outros)?

Afinal, que Lisboa existia ao tempo da chegada dos romanos? Uma antiga colónia fenícia? Como já aqui apontámos, essa hipótese carece de sólidos fundamentos. À semelhança de outros casos, a Lisboa que recebia produtos mediterrânicos (fenícios, egípcios e até, a dada altura, gregos), e que em troca negociava matérias-primas do Norte da Península e do Norte da Europa (incluindo as Ilhas Britânicas) deverá ter sido uma cidade com um autonomia considerável, cosmopolita e - já então - ponto de encontro de diversos povos... mas não tantos como isso.

Analisando as fontes históricas, chegamos à conclusão que a parte Ocidental da Península Ibérica, ao tempo da chegada dos romanos, era praticamente desconhecida para estes. Para o efeito vale a pena recordar uma passagem de Políbio (geógrafo grego que vivia em Roma): "(...) a parte [da Península] que se estende junto ao Mar Externo ou Grande não tem denominação geral, porque não foi descoberta senão recentemente, e é habitada exclusivamente por várias tribos bárbaras, que são numerosas (...)". Isto por oposição à "Ibéria", que Políbio refere como sendo a parte "mediterrânica" da Península (entre o Ebro e o Estreito de Gibraltar), que era já bem conhecida.

De qualquer forma, apesar daquela introdução, Políbio descreveu aquilo que conhecia da zona, apontando singularidades da fauna e actividades humanas (mais que fornecer uma exaustiva descrição geográfica).
No entanto, é de assinalar que existe uma razão forte para que se dê crédito aos testemunhos de Políbio, uma vez que este acompanhou bem de perto as primeiras incursões romanas na região, a pretexto das lutas contra Cartago - lutas essas que foram o principal motivo que trouxe os romanos à Península Ibérica, precisamente.

Tendo em conta que a primeira incursão terá ocorrido cerca de 218 a.C., justifica-se assim a referência de Políbio a um conhecimento "recente" (de apenas algumas décadas, à época do autor). É certo que o mesmo não sucedia com os cartagineses, que conheciam bem a região, mas esses eram o "inimigo", e para além disso tinham mantido um acesso exclusivo à mesma durante quase três séculos, mediante sucessivos acordos com a República Romana.
As afirmações de Políbio atestam assim a eficácia da "proibição" cartaginesa.

Contudo, eram também conhecidas as viagens de exploradores gregos, alguns oriundos da colónia de Massália (Marselha). Como a de Píteas, ou a do anónimo autor do famoso "Périplo Massaliota" - que Avieno trataria de recuperar séculos depois. Políbio, conhecedor do relato de Píteas, revela-se bastante céptico quanto à sua veracidade. Deitou por terra, por exemplo, a hipótese de que o herói Ulisses (em grego, Odysseus) alguma vez tenha alcançado o Estreito de Gibraltar. Não seria o único.
E, hoje em dia, embora seja difícil contestar boa parte do périplo de Píteas (sobretudo as viagens a Norte), permanece duvidosa a parte respeitante à Península Ibérica. Alguns autores adiantam mesmo que Píteas terá partido da costa atlântica de França (depois de viajar por terra desde Marselha), "contornando" assim o bloqueio de Cartago.

De tudo isto podemos concluir (novamente!) que a presença dos gregos nas costas atlânticas da Ibéria terá sido, nas melhor das hipóteses, esporádica (e até furtiva). Não faz assim sentido considerar que tivessem existido colónias gregas ao longo da costa atlântica, como alguns querem fazer crer, suportados num único fundamento minimamente verosímil: achados de cerâmica de origem grega, que o mais natural é que tenham chegado através das rotas comerciais cartaginesas (como tantos outros produtos de diversas regiões do Mediterrâneo).
E com isto, voltamos a insistir, carece de fundamento a hipótese de uma Lisboa "grega".

Para lá da "muralha" cartaginesa (e fenícia, antes dela) ficava então a Lisboa "desconhecida". Embora não sejamos favoráveis às teses que defendem uma colonização fenícia ou cartaginesa da região de Lisboa, é inegável a influência que aqueles povos semitas tiveram (considerando-se inclusivé uma presença prematura de elementos hebraicos).
E parece difícil contrariar a idéia de que o nome de Lisboa se deve também aos fenícios. A teoria mais comum refere "Allis Ubbo", que supostamente significa "enseada amena". Se o topónimo se referia inicialmente ao estuário (ou ao esteiro da Baixa?) e posteriormente se passou a aplicar à cidade, é um dos assuntos questionáveis nesta interpretação. Bem mais atraente, embora (ainda) estranhamente circunscrita aos meios "académicos" é a teoria de que o primeiro nome de Lisboa era "Allis-ippo" (ou "Alliz-ippo"). Não é difícil encontrar "ippo" ou "ipo" (como prefixo ou sufixo) em nomes antigos de muitas localidades do Sudoeste Peninsular referidos pelos romanos, revelando toda uma área de influência com grande concentração no golfo de Cádis, seguindo pelo litoral português, em cidades costeiras ou com acesso privilegiado ao mar por via fluvial (como Collipo).
À partida, este facto confirma a situação de Lisboa no seu primeiro milénio, sob forte influência dos povos instalados no Sul da Península.
Na língua semita, "Allis", como se pode comprovar ainda no moderno hebraico (e poderá estar na origem do nome Alice!) significa feliz ou alegre. Aqui, o significado não difere em muito do entendido em "Allis Ubbo". "Allis-ippo" ou "Olisipo" (ao ouvido de um romano) seria então a "cidade feliz" ou "cidade alegre".
Ainda que se conteste a presença intensiva dos fenícios em Lisboa, o mais natural é que tenha sido o nome de baptismo que estes lhe deram aquele que passou a ser conhecido no Mediterrâneo. No entanto é curioso que a grande maioria dos locais onde encontramos "ippo"/"ipo" seja apenas na Península Ibérica (havia mais Fenícia e Cartago)... Por outro lado, também é verdade que, mesmo no Sul da Península, a "ocupação" efectiva por parte daqueles povos foi relativamente tardia.
Poderemos então considerar uma origem tartéssica ou cinética/cónia (aqui considerando uma forte afinidade entre estes dois povos, como autóctones e em maior ou menor grau fortemente influenciados pelo Oriente púnico - veja-se o caso das antigas escritas do Sul)? É possível.
Quanto ao "nome", não há certezas, mas creio que há hipóteses claramente descartáveis (embora continuem a ser "populares")... tal como há fortes "suspeitos"...

Se Lisboa não era uma cidade fenícia, quem poderiam ser os lisboetas? Turdetanos e Túrdulos (frequentemente considerados como dois ramos do mesmo povo), como já referimos, poderiam ser bons candidatos. Vários escritores romanos reconhecem a influência fenícia sobre estes povos, considerados como os mais avançados da Península Ibérica. Independentemente da sua denominação e da sua "filiação" étnica ou política, o que parece merecer poucas dúvidas é que a cidade primitiva, sendo para todos os efeitos costeira, desde cedo esteve ligada ao mar e a dois grandes eixos, mediterrânico e (norte) atlântico. De certa forma as influências "continentais", marcantes em certas zonas do interior, diluiram-se neste extremo peninsular, numa aculturação precoce que, por sua vez, talvez justifique a relativa facilidade com que os lisboetas se sujeitaram (ou se entregaram) a nova aculturação, com a chegada dos romanos.

Vejamos agora um interessante - e relativamente recente - contributo para estas matérias em particular. Está em Castelhano mas creio que resume bem o estado da questão, não esquecendo os avanços de arqueólogos e historiadores de ambos os lados da Península:

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia.volume 8.número 2.2005, p.193-213
MARIANO TORRES ORTIZ

¿Una colonización tartésica en el interfluvio Tajo-Sado durante la Primera Edad del hierro?

"(...) se puede afirmar que en la desembocadura de los ríos Tajo y Sado existen una serie de topónimos en -ipo que deben ser forzosamente relacionados con las poblaciones tartésicas del valle del Guadalquivir, lo que también viene demostrado tanto por la onomástica de los magistrados monetales presentes en las acuñaciones de Alcácer do Sal cómo por la consideración por Ptolomeo (II, 5, 2-4) de las ciudades de Salacia, Caetobriga, Myrtilis y Pax Iulia como turdetanas, y la mención a los oppida Turdulorum y los Turduli Veteres en esta zona por Plinio (Nat. hist. IV, 113) y Mela (de chor. III, 1, 6).
Igualmente, el análisis de la necrópolis de Alcácer muestra indudables paralelismos conotras del área tartésica, como la Cruz del Negro y Medellín, con dos fases sucesivas de enterramientos en urna y posteriormente en fosa de cremación individual, no documentándose las necrópolis de encachados tumulares tan comunes en el sur de Portugal. Esa misma matriz orientalizante y mediterránea se observa en los materiales excavados en el cerro del Castillo (Tavares da Silva et al., 1980-1981; Paixão, 2001), documentándose incluso exvotos de bronce similares a los hallados en Medellín y en barro en Bencarrón, en los Alcores de Carmona. Tanto en Alcácer do Sal como en Santarém se observa esa continuidad orientalizante hasta época romana republicana, lo que sugiere un ambiente cultural distinto entre esta zona y el resto del sur de Portugal, donde las penetraciones culturales meseteñas son evidentes desde fines del siglo V o inicios del IV a.C., un proceso igualmente bien documentado en Extremadura (Berrocal, 1992, p. 275 y ss., 1995, p. 168-176; Rodríguez Díaz, 1995).
Otras evidencias materiales, como las cerámicas de retícula bruñida, los grafitos en escritura paleohispánica, las fíbulas y los jarros de bronce piriformes y los braserillos también apuntan a la filiación cultural tartésica de las poblaciones asentadas en las desembocaduras de los ríos Tajo y Sado.
En consecuencia, se propone la hipótesis de que estas poblaciones son el pueblo que aparece mencionado en la Ora Maritima de Avieno con el nombre de Cempsos (O. M. 195-196, 200).
Éstos habían poseído anteriormente la isla de Cartare (O. M. 257), situada por todos los editores y comentaristas de Avieno en las costas del Lago Ligustino.

No obstante, siempre se les ha considerado, junto a los Sefes, tribus célticas o, más genéricamente, indoeuropeas, por su situación en la costa atlántica de la Península Ibérica y la mención de los Keltoi "más allá de" los Kynesioi por parte de Herodoto (II, 33), habiéndose buscado igualmente relacionar este etnónimo con otros de la Europa indoeuropea (Schulten, 1922, p. 29--30, 93; Bosch Gimpera, 1932, p. 503, 1942, p. 70-71, 74-75; Almagro Basch, 1966, p. 212, 214; Tovar, 1976, p. 195-196; Silva y Gomes, 1992, p. 168; Fabião, 1993, p. 156; Mangas y Plácido,1994, p. 73; Alarcão, 1996, p. 24).
Sin embargo, Alarcão (2001, p. 322) señala que si no fuese porque Lambrino sostiene que el etnónimo de los Sefes es indoeuropeo, se podría admitir un origen para este pueblo en el sur de la Península Ibérica donde, nótese bien, también habitaban los Cempsi, para los que Corrêa (1924, p. 88-89) señala que su celticidad no está demostrada, aunque no la descarta, y Berrocal (1992, p. 32) advierte que nada los define como célticos.
Así, lo que muestra el poema es que en la segunda mitad del siglo VI a.C. todavía se recordaba el origen en el área tartésica de este pueblo (para una fecha del siglo VI a.C. de parte del material de la Ora Marítima de Avieno, cf. Schulten, 1922; Antonelli, 1998), lo que coincide con la colonización tartésica de esta zona que se plantea en este trabajo en un momento que aún no se puede fechar con precisión pero que debe ascender como mínimo a fines del siglo VII a.C., si no ya a fines del VIII, cuando se fechan las evidencias orientalizantes más antiguas en Lisboa ySantarém (Arruda, 2002, p. 120, 185-186).
Este asentamiento de poblaciones de origen tartésico en las desembocaduras del Tajo y del Sado explica también la mención al camino que desde la península de Lisboa llevaba a las costas tartésicas en cuatro días (O. M. 179-180), una ruta que complementaba las comunicaciones en una zona donde el viaje por mar, aún siendo posible, es complicado ante la dificultad de doblar el cabo de San Vicente, además de proporcionar una ruta alternativa durante el invierno, época en la que se evitaba navegar en la Antigüedad.
La razón del establecimiento de estas poblaciones en la Península de Lisboa sería principalmente comercial, como una estrategia más por el dominio de las rutas que comercializaban el estaño y otros metales por parte de las entidades políticas ubicadas en el valle del Guadalquivir, razón aducida también para justificar el interés fenicio en la zona (Arruda, 1993, p. 207-208, 2002, p. 100, 223).
Sin embargo, otra razón hay que buscarla en la propia dinámica interna de las poblaciones tartésicas del bajo Guadalquivir y de la cuenca media del Guadiana, para las que se ha planteado que en el siglo VII a.C. se efectuaría una colonización agrícola de la tierra disponible dentro del marco de la aparición de núcleos verdaderamente urbanos en toda la zona, como sería el caso de Medellín en el curso medio del Guadiana, a causa de un proceso de marcado crecimiento demográfico (Almagro-Gorbea, 1990, p. 98-100, 1996, p. 67-68).
De hecho, podemos estar ante lo que Ruiz Zapatero (1995, p. 33-34) denomina "modelo
socioeconómico expansivo", definido por este investigador para explicar la expansión interna de los Campos de Urnas en la Península Ibérica. Así, la existencia de una nueva base subsistencial, que en la adaptación al área de Lisboa vendría dada por la adopción de introducción del cultivo de la vid y del olivo a la explotación agropecuaria del Bronce Final (Arruda, 2003, p. 208, 210, 215; Barros, Cardoso y Sabrosa, 1993, p. 166), una nueva organización social y un ritual funerario ligado al surgimiento de los primeros núcleos urbanos, como evidencian las necrópolis
de la Cruz del Negro y Medellín (Almagro-Gorbea, 1996, p. 64), y nuevos desarrollos tecnológicos, que aquí habría que vincular a la generalización de la metalurgia del hierro y, posiblemente, de la plata (Barros, Cardoso y Sabrosa, 1993, p. 159), serían lo suficientemente atractivas como para ser adoptadas por las poblaciones locales. Todo ello con un estímulo externo no necesariamente importante en términos demográficos, procedente desde el valle medio del Guadiana (vid. el siguiente párrafo), aunque la adopción de los topónimos en -ipo y de la escritura tartésica
en Alcácer do Sal sugiere incluso una sustitución lingüística que podría a su vez indicar un aporte demográfico importante.
Dentro de esta dinámica expansionista se efectuaría el poblamiento de la península de Lisboa desde el codo del Guadiana, a través de la zona de Beja hasta las desembocaduras de los ríos Tajo y Sado. En este sentido, el proceso recordaría mucho a la expansión vilanoviana y a la colonización etrusca de la llanura del Po por parte de los etruscos desde el siglo VI a.C. (Torelli, 1996, p. 44; Bartoloni, 2001; Bonghi Jovino, 2001; Sassatelli, 2001), en un proceso estructuralmente semejante de creación y consolidación de los núcleos urbanos.
De esta forma, se observa como sobre la población del Bronce Final caracterizada por las cerámicas con decoración bruñida propias de los estilos Lapa do Fumo y Alpiarça del valle del Tajo (Cardoso, 1995) se superpone ya en la Primera Edad del Hierro la llegada de un nuevo contingente demográfico, que tanto por su cultura material como por los topónimos usados deben ser consideradas tartésicas, que interaccionará con el sustrato local.
Así, se observa la discontinuidad entre las fases II y III del cerro del Castillo de Alcácer do Sal (Tavares da Silva et al., 1980-1981, p. 170 y ss., 210-211), donde a un horizonte de cerámicas a mano del Bronce Final se superpone a fines del siglo VII a.C. un numeroso conjunto de cerámicas orientalizantes tanto bícromas como de barniz rojo que muestran evidentes relaciones con las documentadas en Medellín y en el área onubense.
Esta cesura en el registro se observa igualmente en Almaraz, donde a un hábitat del Bronce Final con producciones cerámicas únicamente a mano se sobrepone otro con la misma cronología de inicio que Alcácer do Sal, fines del siglo VII a.C., con muestras evidentes de la llegada de una población alóctona a la zona considerada fenicia por Cardoso (1995, p. 52) pero que más bien habría que considera tartésica en función de la toponimia prerromana documentada en esta región portuguesa.
El panorama está menos claro en Santarém, aunque parecen existir evidencias de un nivel del Bronce Final en la Alcáçova sobre el que se superponen a fines del siglo VIII a.C. los niveles con materiales orientalizantes de tipología fenicia y a mano propios del bajo Guadalquivir (Arruda, 2002, p. 223), aunque aún es difícil comprender cuál ha sido la dinámica del proceso. En su conjunto, parece asistirse a un proceso de "colonización" tartésica en el que se asimilará la población
residente en la región en ese momento, dando lugar a la caracterización turdetana que va a poseer esta zona en las fuentes clásicas de los siglos I-II de la era.
Sin embargo, es difícil discernir si este proceso de colonización se efectúo por vía marítima a través de las costas atlánticas o, por el contrario, se produjo por vía terrestre a través del valle medio del Guadiana, que ya desde el Bronce Final presenta una notable homogeneidad de materiales con la baja Andalucía, como evidencian el lote cerámico hallado en el teatro romano de Medellín (del Amo, 1973; Almagro-Gorbea, 1977, p. 102-104, figs. 48-49) y por otros hallazgos en la actual provincia de Badajoz (Enríquez Navascués, 1990; Rodríguez Díaz y Enríquez Navascués,
2001, p. 112 y ss.).
No obstante, la vía terrestre constituye actualmente la hipótesis más económica, aunque debería ser confirmada por nuevos hallazgos en la franja de territorio portugués que se extiende entre la curva del Guadiana, precisamente frontera en el Bronce Final entre las cerámicas con decoración bruñida interna y externa (Enríquez Navascués, 1990, p. 76-77, figs. 2 y 5; Rodríguez Díaz y Enríquez Navascués, 2001, p. 116), y la península de Lisboa.

En este sentido, una etapa intermedia entre la desembocadura del Tajo y la cuenca media de este río, y quizá con la Extremadura, tal vez vendría marcada por el horizonte de la Edad del Hierro del yacimiento de Cachouça, aunque el material reseñado tras la una ocupación del Bronce Final parece señalar ya a un momento muy avanzado de la Primera Edad del Hierro, hacia mediados del siglo VI a.C., como sugieren las cuentas oculadas de vidrio, un amphoriskos del mismo material, una terracota quizá en forma de ave, una fíbula de apéndice caudal (¿tipo Acebuchal?)
y los platos y cuencos de borde engrosado fabricados en cerámica gris a torno (Vilaça, 2000, p.175; Vilaça y Arruda, 2004, p. 23-24), lo que no permite enlazar con los materiales de los siglos VIII-VI A. C. excavados en Santarém, Almada y Lisboa.
Todo ello llevaría a discutir finalmente la propuesta de otros investigadores de una migración precisamente desde estas áreas, Extremadura y el occidente de Portugal, hacia la baja Andalucía, ya porque ésta se hallaría despoblada (Belén y Escacena, 1992, p. 71), ya por la atracción económica ejercida desde el núcleo tartésico y que se vería plasmada en el área de distribución de las estelas extremeñas (Celestino, 1998, 2001, p. 276, 293). El proceso que se propone aquí es el contrario, con una expansión desde el área nuclear tartésica del bajo Guadalquivir en una primera
fase hasta la baja Extremadura y, posteriormente, hasta las regiones del centro de Portugal seguramente con la intención tanto de aliviar las necesidades de una población en expansión como de controlar las rutas por las que se comercializaban los metales atlánticos.
Por último, una dinámica similar puede plantearse también en la zona del valle medio del Tajo, donde también se fundarían colonias de poblamiento en lugares estratégicos de las principales rutas comerciales y vías de comunicación, explicándose así los materiales orientalizantes procedentes de Talavera la Vieja (Jiménez Ávila y González Cordero, 1999; Martín Bravo, 1999, p. 93-96, figs. 33-34) y del Cerro de la Mesa (Ortega y del Valle, 2004, p. 176-179), ambos situados en sendos vados del Tajo en las rutas que se dirigen hacia los pasos del Sistema central. Se trataría de una dinámica muy similar a la propuesta por Algaze (1993) para la expansión de Uruk
en Mesopotamia durante el IV milenio a.C. con el control de las principales rutas de comunicación fuera del núcleo de las principales entidades políticas mediante puestos de avanzada que servirían como colonias de poblamiento y como lugar de control de los flujos comerciales, una táctica que se extiende a otras civilizaciones en el momento en que se está produciendo el surgimiento del estado (Algaze, 1993a).
En definitiva, creo que se presenta un panorama coherente para una mejor comprensión
de las dinámicas de las sociedades protohistóricas de la Primera Edad del Hierro del sudoeste de la Península Ibérica, que muestran un panorama mucho más integrado que el normalmente presentado y en el que se valora la iniciativa y las acciones de las poblaciones locales en un momento de intensa interacción con las poblaciones coloniales fenicias presentes en la zona desde un momento temprano del siglo IX a.C. o incluso anterior, según demuestran las nuevas evidencias documentadas en Huelva (González de Canales, Serrano y Llompart, 2004)."


Adicionalmente, novos trabalhos e pesquisas têm vindo a revelar novos dados, não sem algumas surpresas igualmente interessantes. A quem interesse, creio ser indispensável a sua leitura:

Novos dados sobre a ocupação pré-romana da cidade de Lisboa: as ânforas da sondagem n.º 2 da Rua de São João da Praça (2005) - JOÃO PIMENTA, MARCO CALADO, MANUELA LEITÃO:
http://www.ipa.min-cultura.pt/pubs/RPA/v8n2/folder/313-334.pdf

Fenicios en el Extremo Occidente: conflicto y violencia en el contexto
colonial arcaico - CARLOS G. WAGNER (2005):
http://www.ipa.min-cultura.pt/pubs/RPA/v8n2/folder/177-192.pdf

Os mais recentes achados epigráficos do Castelo de S. Jorge, Lisboa - Amílcar Guerra (2006):
http://www.ipa.min-cultura.pt/pubs/RPA/v9n2/folder/271-298.pdf

As ânforas romanas do Castelo de São Jorge (Lisboa) - João Pimenta/IPPAR (2005?):
http://www.ipa.min-cultura.pt/pubs/TA/folder/41/

A IMPORTAÇÃO DE ÂNFORAS DE PREPARADOS PÍSCICOLAS EM OLISIPO (SÉCULOS II-I A.C.). - João Pimenta/IPPAR (2006?):
http://ceipac.gh.ub.es/biblio/Data/A/0517.pdf

Olisipo pré-romana. Um ponto da situação - Marco Calado (2006):
http://br.monografias.com/trabalhos3/olisipo-pre-romana/olisipo-pre-romana2.shtml

Os portos na origem dos centros urbanos: contributo para a arqueologia das cidades marítimas e flúvio-marítimas em Portugal - Maria Luísa Pinheiro Blot:
http://www.ipa.min-cultura.pt/pubs/TA/folder/28

sábado, 25 de abril de 2009

La liberté éclairant le monde


Alemanha, 1989


Itália, 1945


França, 1944


África do Sul, 1990


Roménia, 1989


Portugal, 1974


quarta-feira, 15 de abril de 2009

Como disse? Oi?

Já aqui recomendei a edição portuguesa da revista Time Out. Quanto aos guias turísticos da mesma editora, mal os conheço, mas aparentam qualidade mínima. No entanto, num dos seus guias sobre Lisboa, neste caso em português - edição brasileira em colaboração com o famoso jornal Estadão (S. Paulo) - encontrei esta "dica" que me deixou verdadeiramente atordoado:

"Evite falar em espanhol com os portugueses. [não estou a ver para quê, mas está certo] É melhor arriscar um inglês ou francês [oi? de certeza?], ou mesmo o português. [????????]"

Recordo, o guia está em português, dirigido a leitores que falam o português (ainda que com outro sotaque e uma ou outra diferença mais). Afronta? Penso que não, terá sido apenas um caso (mais um) de tradução literal (e por isso descuidada) do inglês.
É certo que o nosso sotaque não é fácil, no início, mas também duvido que o inglês ou o francês sejam alternativa prática...

Fica a brincadeira e uma saudação para os nossos primos de além-Atlântico...

sexta-feira, 10 de abril de 2009

De Lisboa no Destak

Foi na edição do passado dia 30 de Março que o jornal Destak deu destaque a este modesto espaço, em rubrica dedicada aos blogues de Lisboa (recomenda-se):

Obrigado!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Igrejas de Lisboa (II): Igreja Paroquial de S. José ou da Anunciada

Dois anos depois, retomo a projectada série de artigos sobre as Igrejas de Lisboa, até hoje resumida a uma entrada apenas, da Igreja de São José dos Carpinteiros. Desta vez passo a outra Igreja da mesma freguesia (relacionada com a anterior, como veremos), não muito longe da primeira, ao Largo da Anunciada.

Trata-se de uma Igreja relativamente "recente" (final do Século XIX), não classificada (ao que sei), e sobre a qual o interessante "sítio" da Junta de Freguesia de S. José é praticamente o único que nos oferece informação:

Construída pela irmandade do Santíssimo Sacramento para sede da paróquia que desde 1567 estivera na igreja de S. José dos Carpinteiros. A sua construção iniciou-se em 1863, ficando concluída em 1883. De um projecto de Tomás da Fonseca, e alterado em 1868 por Domingos Parente, é uma igreja sem nave. A Parente se deve a fachada lateral de três corpos sobre a Rua de S. José. A partir de 1881 a obra passou para a direcção de José Monteiro até à sua conclusão. O resultado final tem pouco a ver com o projecto original.


(...)

A igreja foi construída no local onde estivera o mosteiro dos frades Agostinhos, que em 1539 o cederam por troca às freiras Dominicanas da Nossa Senhora da Anunciada, que se transferiram para este local da sua primitiva fundação na Costa do Castelo, e que ficou completamente arruinado pelo terramoto de 1755.

Com a instalação das freiras Dominicanas de Nossa Senhora da Anunciada, o nome destas passou ao local onde se situava o mosteiro, e à rua que junto dele seguia.

Esse local foi marcado, no Plano de divisão das freguesias de 1770, no sítio da arruinada igreja do mosteiro e como o terreno pertencia às freiras deste mosteiro, que, tendo-se transferido depois do terramoto para o convento de Sta. Joana, formando com outras a comunidade de freiras desta invocação, a irmandade do S. Sacramento, erecta na freguesia de S. José comprou-o às freiras, por escritura de 25 de Maio de 1765.

(...)

A Igreja foi projectada em 1793, tendo o arquitecto António Fernandes Rodrigues feito um aparatoso projecto que não se executou por demandar grandes despesas. Fez-se depois um novo projecto, que não sendo tão custoso, era contudo elegante.

Começou-se então a construção da nova igreja, mas as obras caminharam com tão pequeno entusiasmo durante todo um século que só em 1862 ou 1863, segundo consta, é que receberam maior impulso, sem que todavia lograssem a conclusão do templo.

Em 1883, apesar dos trabalhos não estarem concluídos, pois faltava ainda construir o corpo da igreja e o coro, foi benzida em 12 de Agosto e para ali se transferiu a freguesia a 15 de Agosto do referido ano de 1883, ficando a antiga igreja de S. José entregue à sua irmandade, continuando ali a exercer-se o culto. Parece que divergências que se deram entre esta irmandade e do Santíssimo abreviaram a mudança da Freguesia.
Como pontos de interesse, ficamos a saber que no local já teriam existido outros edifícios religiosos, primeiro de frades Agostinhos, depois das Irmãs Dominicanas da Nossa Senhora da Anunciada - invocação que sobreviveria, ficando o mosteiro completamente arruinado pelo terramoto de 1755. Dos Agostinhos Descalços de Santo Antão ficou a evocação deste último Santo, no nome da Porta (da Cerca Fernandina) que existiu, mais abaixo (uma vez que, à saída da muralha, no Século XV, o mosteiro era o primeiro e solitário edifício, como se pode ver em gravuras da época), bem como na actual rua (já que, das Portas, pouco resta).

Porta chamada de Santo Antão, para além da qual estão as hortas... e, embora não assinalado nas diversas vistas da cidade (esta, a editada por G. Braun), muito provavelmente, o mosteiro de Santo Antão (ao centro no topo da imagem)...

Ainda em época pombalina passou o terreno para a posse da Irmandade do Santíssimo Sacramento, sendo no entanto necessários cerca de 120 anos para a abertura ao culto da Igreja para ali pensada e desejada. À primeira vista parecerá intrigante e misterioso, mas a própria reconstrução pombalina (sob a qual a reconstrução de muitas igrejas teria de ser custeada pelas paróquias e seus fiéis), as invasões francesas, a Guerra Civil e o Liberalismo... explicam em boa medida o atraso.

Como arquitectos são referidos Domingos Parente e José Monteiro, nomes que encontramos associados a um outro edifício da cidade, mais afamado: o da Câmara Municipal de Lisboa, inaugurado três anos antes (após destruição por incêndio do edifício de Eugénio dos Santos, em 1863).

quinta-feira, 19 de março de 2009

Fototipias - Exposição no Arquivo Fotográfico Municipal

O Arquivo Municipal de Lisboa - Arquivo Fotográfico inaugura no próximo dia 24 de Março, às 18:30, a exposição Fototipias, com o trabalho inédito do fotógrafo amador António Machado de Mendia (1880-1933), 27 paisagens, na sua maioria realizadas no País Basco (colecção particular). São igualmente expostos trabalhos de vários fotógrafos do espólio Eduardo Portugal (1900-1958) doado ao Arquivo em 1991: Domingos Alvão, Silva Nogueira, Francesco Rochinni e outros, em actividade no final do século XIX e primeira metade do século XX, que utilizaram a fototipia como processo de impressão dos seus trabalhos e na realização de edições e exposições.
A fototipia foi um processo de impressão fotomecânico, comercializado a partir de 1868, que permite imprimir muitas provas a partir da mesma matriz, com excelente reprodução dos meios-tons, detalhe minucioso nas sombras e a aparência de fotografias reais. A rede deste processo fotomecânico, irregular, é dificilmente perceptível à vista desarmada, pelo que a semelhança com as provas fotográficas é notável.
A exposição tem também uma componente didáctica, em que são apresentados ao público outros processos de impressão fotomecânicos, materiais e processos de fabrico, suas características técnicas e pistas para a sua identificação.

Marcação de visitas guiadas
Serviço educativo: Paula Figueiredo: paula.cunca@cm-lisboa.pt Alexandra Nunes: alexandra.nunes@cm-lisboa.pt

Horário:
De terça-feira a sexta-feira, das 10. 00h às 18.30h - 1.º e 3.º Sábados de cada mês das 10.00h às 17.15h
Encerrado: segundas, domingos e feriados

Como chegar:
Arquivo Municipal de Lisboa/Arquivo Fotográfico
Rua da Palma, 246

Metro - Martim Moniz/Intendente Autocarro - 708, 40
Eléctrico - 28
No Arquivo Municipal de Lisboa

terça-feira, 17 de março de 2009

Qual é o sítio mais alto de Lisboa?

Qual é, na topografia da cidade (excluindo construções), o ponto mais alto de Lisboa?

Para muita gente (sobretudo turistas), será o Castelo de São Jorge. É verdade, mas só em parte. Provavelmente será o sítio mais alto... que alguma vez visitaram em toda a cidade.

Não tão conhecido e muito menos afamado (injustamente) é o Monte de S. Gens, onde está o Miradouro da Senhora do Monte (bem como a Capela ou Ermida da mesma invocação). Segundo as fontes que consultámos pela internet fora, este recôndito miradouro (com uma das melhores vistas, senão a melhor da cidade) supera a antiga "acrópole" em altura, e é mesmo o sítio mais alto... da parte histórica de Lisboa. E como tal - mas não só - será talvez o mais alto dos que vale a pena visitar...

Em sequência, mais adiante, temos a Penha de França, que parece-me superar os anteriores, mas também não é o ponto mais alto de Lisboa.


O sítio mais alto do Concelho de Lisboa, sem margem para discussão, é o alto de Monsanto... no local onde se encontra actualmente o Estabelecimento Prisional, antigo Forte de Monsanto. 227 metros de altitude, medida modesta no que a serras diz respeito, mas suficiente para o domínio de Lisboa.
Mercê da topografia da "serra", do parque florestal ali plantado, bem como da vizinhança de outra zona alta, no outro lado Vale de Alcântara (altos de Campolide, Campo de Ourique), as vistas são limitadas.


Talvez seja possível visitar o Centro Emissor de Monsanto (mas não tenho a certeza). De qualquer forma, para os apreciadores de vistas "em altura", posso garantir que a vista do cimo dos edifícios das Amoreiras (o "shopping" de Tomás Taveira) é deslumbrante, magnífica...

No "tecto" de Lisboa - O Forte de Monsanto no princípio do Século XX
Fontes:
Lisboa Interactiva - CML
Arquivo Municipal de Lisboa

quinta-feira, 12 de março de 2009

Reabertura do Lagartagis


Mais uma razão para (re)visitar o Jardim Botânico de Lisboa: após algumas dificuldades, vai reabrir o Borboletário - Lagartagis!

É este programa, para o dia 21 de Março (Sábado):

Reabertura Lagartagis
Borboletas de volta a Lisboa!!

Reabertura Lagartagis
21 de Março 2009
Dia Aberto no Lagartagis

Programa
Encontro na Escadaria Principal do Jardim Botânico, 15h

A PARTIR DAS 15H ATÉ ÀS 17H
Inauguração do Stand «Como fazer um Jardim de Borboletas»
(venda de plantas envasadas e «instruções a seguir»)

ANIMAÇÕES PARA CRIANÇAS E BORBOLETAS
a) Pinturas Faciais
b) Pinturas com Aguarelas e Sal

VISITAS GUIADAS À ESTUFA (a partir das 15h30, de 15' em 15')

LANCHE «Comida de Borboletas»
a) Espetadas de Fruta
b) Chá frio adocicado com Mel

Como se vê, será uma boa alternativa para as crianças passarem uma boa tarde de Sàbado. Não as deixe em casa!

Ligações:
Borboletas na Web - Lagartagis
Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal
Jardim Botânico de Lisboa