Se quanto à origem e fundação de Lisboa subsistem muitas dúvidas, já sobre a presença dos romanos a informação, ainda que por vezes imperfeita, é bem mais rica.
Mas ainda antes de passarmos ao início da "romanização" de Lisboa, vale a pena tentar (e é mesmo tentar!) recontruir o cenário "pré-romano", aproveitando para tal alguns dos elementos anteriormente apresentados.
Há questões intrigantes que merecem atenção. Porque é que a cidade de Lisboa, aparentemente, terá sido uma das primeiras e principais aliadas dos romanos? Qual o papel de Lisboa nas Guerras Púnicas, que opuseram os romanos a cartagineses? Qual a caracterização de Lisboa no seio de um variado grupo de povos de diversas origens (Lusitanos, Túrdulos, Célticos, Cónios, Turdetanos, entre outros)?
Afinal, que Lisboa existia ao tempo da chegada dos romanos? Uma antiga colónia fenícia? Como já aqui apontámos, essa hipótese carece de sólidos fundamentos. À semelhança de outros casos, a Lisboa que recebia produtos mediterrânicos (fenícios, egípcios e até, a dada altura, gregos), e que em troca negociava matérias-primas do Norte da Península e do Norte da Europa (incluindo as Ilhas Britânicas) deverá ter sido uma cidade com um autonomia considerável, cosmopolita e - já então - ponto de encontro de diversos povos... mas não tantos como isso.
Analisando as fontes históricas, chegamos à conclusão que a parte Ocidental da Península Ibérica, ao tempo da chegada dos romanos, era praticamente desconhecida para estes. Para o efeito vale a pena recordar uma passagem de Políbio (geógrafo grego que vivia em Roma): "(...) a parte [da Península] que se estende junto ao Mar Externo ou Grande não tem denominação geral, porque não foi descoberta senão recentemente, e é habitada exclusivamente por várias tribos bárbaras, que são numerosas (...)". Isto por oposição à "Ibéria", que Políbio refere como sendo a parte "mediterrânica" da Península (entre o Ebro e o Estreito de Gibraltar), que era já bem conhecida.
De qualquer forma, apesar daquela introdução, Políbio descreveu aquilo que conhecia da zona, apontando singularidades da fauna e actividades humanas (mais que fornecer uma exaustiva descrição geográfica).
No entanto, é de assinalar que existe uma razão forte para que se dê crédito aos testemunhos de Políbio, uma vez que este acompanhou bem de perto as primeiras incursões romanas na região, a pretexto das lutas contra Cartago - lutas essas que foram o principal motivo que trouxe os romanos à Península Ibérica, precisamente.
Tendo em conta que a primeira incursão terá ocorrido cerca de 218 a.C., justifica-se assim a referência de Políbio a um conhecimento "recente" (de apenas algumas décadas, à época do autor). É certo que o mesmo não sucedia com os cartagineses, que conheciam bem a região, mas esses eram o "inimigo", e para além disso tinham mantido um acesso exclusivo à mesma durante quase três séculos, mediante sucessivos acordos com a República Romana.
As afirmações de Políbio atestam assim a eficácia da "proibição" cartaginesa.
Contudo, eram também conhecidas as viagens de exploradores gregos, alguns oriundos da colónia de Massália (Marselha). Como a de Píteas, ou a do anónimo autor do famoso "Périplo Massaliota" - que Avieno trataria de recuperar séculos depois. Políbio, conhecedor do relato de Píteas, revela-se bastante céptico quanto à sua veracidade. Deitou por terra, por exemplo, a hipótese de que o herói Ulisses (em grego, Odysseus) alguma vez tenha alcançado o Estreito de Gibraltar. Não seria o único.
E, hoje em dia, embora seja difícil contestar boa parte do périplo de Píteas (sobretudo as viagens a Norte), permanece duvidosa a parte respeitante à Península Ibérica. Alguns autores adiantam mesmo que Píteas terá partido da costa atlântica de França (depois de viajar por terra desde Marselha), "contornando" assim o bloqueio de Cartago.
De tudo isto podemos concluir (novamente!) que a presença dos gregos nas costas atlânticas da Ibéria terá sido, nas melhor das hipóteses, esporádica (e até furtiva). Não faz assim sentido considerar que tivessem existido colónias gregas ao longo da costa atlântica, como alguns querem fazer crer, suportados num único fundamento minimamente verosímil: achados de cerâmica de origem grega, que o mais natural é que tenham chegado através das rotas comerciais cartaginesas (como tantos outros produtos de diversas regiões do Mediterrâneo).
E com isto, voltamos a insistir, carece de fundamento a hipótese de uma Lisboa "grega".
Para lá da "muralha" cartaginesa (e fenícia, antes dela) ficava então a Lisboa "desconhecida". Embora não sejamos favoráveis às teses que defendem uma colonização fenícia ou cartaginesa da região de Lisboa, é inegável a influência que aqueles povos semitas tiveram (considerando-se inclusivé uma presença prematura de elementos hebraicos).
E parece difícil contrariar a idéia de que o nome de Lisboa se deve também aos fenícios. A teoria mais comum refere "Allis Ubbo", que supostamente significa "enseada amena". Se o topónimo se referia inicialmente ao estuário (ou ao esteiro da Baixa?) e posteriormente se passou a aplicar à cidade, é um dos assuntos questionáveis nesta interpretação. Bem mais atraente, embora (ainda) estranhamente circunscrita aos meios "académicos" é a teoria de que o primeiro nome de Lisboa era "Allis-ippo" (ou "Alliz-ippo"). Não é difícil encontrar "ippo" ou "ipo" (como prefixo ou sufixo) em nomes antigos de muitas localidades do Sudoeste Peninsular referidos pelos romanos, revelando toda uma área de influência com grande concentração no golfo de Cádis, seguindo pelo litoral português, em cidades costeiras ou com acesso privilegiado ao mar por via fluvial (como Collipo).
À partida, este facto confirma a situação de Lisboa no seu primeiro milénio, sob forte influência dos povos instalados no Sul da Península.
Na língua semita, "Allis", como se pode comprovar ainda no moderno hebraico (e poderá estar na origem do nome Alice!) significa feliz ou alegre. Aqui, o significado não difere em muito do entendido em "Allis Ubbo". "Allis-ippo" ou "Olisipo" (ao ouvido de um romano) seria então a "cidade feliz" ou "cidade alegre".
Ainda que se conteste a presença intensiva dos fenícios em Lisboa, o mais natural é que tenha sido o nome de baptismo que estes lhe deram aquele que passou a ser conhecido no Mediterrâneo. No entanto é curioso que a grande maioria dos locais onde encontramos "ippo"/"ipo" seja apenas na Península Ibérica (havia mais Fenícia e Cartago)... Por outro lado, também é verdade que, mesmo no Sul da Península, a "ocupação" efectiva por parte daqueles povos foi relativamente tardia.
Poderemos então considerar uma origem tartéssica ou cinética/cónia (aqui considerando uma forte afinidade entre estes dois povos, como autóctones e em maior ou menor grau fortemente influenciados pelo Oriente púnico - veja-se o caso das antigas escritas do Sul)? É possível.
Quanto ao "nome", não há certezas, mas creio que há hipóteses claramente descartáveis (embora continuem a ser "populares")... tal como há fortes "suspeitos"...
Se Lisboa não era uma cidade fenícia, quem poderiam ser os lisboetas? Turdetanos e Túrdulos (frequentemente considerados como dois ramos do mesmo povo), como já referimos, poderiam ser bons candidatos. Vários escritores romanos reconhecem a influência fenícia sobre estes povos, considerados como os mais avançados da Península Ibérica. Independentemente da sua denominação e da sua "filiação" étnica ou política, o que parece merecer poucas dúvidas é que a cidade primitiva, sendo para todos os efeitos costeira, desde cedo esteve ligada ao mar e a dois grandes eixos, mediterrânico e (norte) atlântico. De certa forma as influências "continentais", marcantes em certas zonas do interior, diluiram-se neste extremo peninsular, numa aculturação precoce que, por sua vez, talvez justifique a relativa facilidade com que os lisboetas se sujeitaram (ou se entregaram) a nova aculturação, com a chegada dos romanos.
Vejamos agora um interessante - e relativamente recente - contributo para estas matérias em particular. Está em Castelhano mas creio que resume bem o estado da questão, não esquecendo os avanços de arqueólogos e historiadores de ambos os lados da Península:
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia.volume 8.número 2.2005, p.193-213
MARIANO TORRES ORTIZ
¿Una colonización tartésica en el interfluvio Tajo-Sado durante la Primera Edad del hierro?
"(...) se puede afirmar que en la desembocadura de los ríos Tajo y Sado existen una serie de topónimos en -ipo que deben ser forzosamente relacionados con las poblaciones tartésicas del valle del Guadalquivir, lo que también viene demostrado tanto por la onomástica de los magistrados monetales presentes en las acuñaciones de Alcácer do Sal cómo por la consideración por Ptolomeo (II, 5, 2-4) de las ciudades de Salacia, Caetobriga, Myrtilis y Pax Iulia como turdetanas, y la mención a los oppida Turdulorum y los Turduli Veteres en esta zona por Plinio (Nat. hist. IV, 113) y Mela (de chor. III, 1, 6).
Igualmente, el análisis de la necrópolis de Alcácer muestra indudables paralelismos conotras del área tartésica, como la Cruz del Negro y Medellín, con dos fases sucesivas de enterramientos en urna y posteriormente en fosa de cremación individual, no documentándose las necrópolis de encachados tumulares tan comunes en el sur de Portugal. Esa misma matriz orientalizante y mediterránea se observa en los materiales excavados en el cerro del Castillo (Tavares da Silva et al., 1980-1981; Paixão, 2001), documentándose incluso exvotos de bronce similares a los hallados en Medellín y en barro en Bencarrón, en los Alcores de Carmona. Tanto en Alcácer do Sal como en Santarém se observa esa continuidad orientalizante hasta época romana republicana, lo que sugiere un ambiente cultural distinto entre esta zona y el resto del sur de Portugal, donde las penetraciones culturales meseteñas son evidentes desde fines del siglo V o inicios del IV a.C., un proceso igualmente bien documentado en Extremadura (Berrocal, 1992, p. 275 y ss., 1995, p. 168-176; Rodríguez Díaz, 1995).
Otras evidencias materiales, como las cerámicas de retícula bruñida, los grafitos en escritura paleohispánica, las fíbulas y los jarros de bronce piriformes y los braserillos también apuntan a la filiación cultural tartésica de las poblaciones asentadas en las desembocaduras de los ríos Tajo y Sado.
En consecuencia, se propone la hipótesis de que estas poblaciones son el pueblo que aparece mencionado en la Ora Maritima de Avieno con el nombre de Cempsos (O. M. 195-196, 200).
Éstos habían poseído anteriormente la isla de Cartare (O. M. 257), situada por todos los editores y comentaristas de Avieno en las costas del Lago Ligustino.
No obstante, siempre se les ha considerado, junto a los Sefes, tribus célticas o, más genéricamente, indoeuropeas, por su situación en la costa atlántica de la Península Ibérica y la mención de los Keltoi "más allá de" los Kynesioi por parte de Herodoto (II, 33), habiéndose buscado igualmente relacionar este etnónimo con otros de la Europa indoeuropea (Schulten, 1922, p. 29--30, 93; Bosch Gimpera, 1932, p. 503, 1942, p. 70-71, 74-75; Almagro Basch, 1966, p. 212, 214; Tovar, 1976, p. 195-196; Silva y Gomes, 1992, p. 168; Fabião, 1993, p. 156; Mangas y Plácido,1994, p. 73; Alarcão, 1996, p. 24).
Sin embargo, Alarcão (2001, p. 322) señala que si no fuese porque Lambrino sostiene que el etnónimo de los Sefes es indoeuropeo, se podría admitir un origen para este pueblo en el sur de la Península Ibérica donde, nótese bien, también habitaban los Cempsi, para los que Corrêa (1924, p. 88-89) señala que su celticidad no está demostrada, aunque no la descarta, y Berrocal (1992, p. 32) advierte que nada los define como célticos.
Así, lo que muestra el poema es que en la segunda mitad del siglo VI a.C. todavía se recordaba el origen en el área tartésica de este pueblo (para una fecha del siglo VI a.C. de parte del material de la Ora Marítima de Avieno, cf. Schulten, 1922; Antonelli, 1998), lo que coincide con la colonización tartésica de esta zona que se plantea en este trabajo en un momento que aún no se puede fechar con precisión pero que debe ascender como mínimo a fines del siglo VII a.C., si no ya a fines del VIII, cuando se fechan las evidencias orientalizantes más antiguas en Lisboa ySantarém (Arruda, 2002, p. 120, 185-186).
Este asentamiento de poblaciones de origen tartésico en las desembocaduras del Tajo y del Sado explica también la mención al camino que desde la península de Lisboa llevaba a las costas tartésicas en cuatro días (O. M. 179-180), una ruta que complementaba las comunicaciones en una zona donde el viaje por mar, aún siendo posible, es complicado ante la dificultad de doblar el cabo de San Vicente, además de proporcionar una ruta alternativa durante el invierno, época en la que se evitaba navegar en la Antigüedad.
La razón del establecimiento de estas poblaciones en la Península de Lisboa sería principalmente comercial, como una estrategia más por el dominio de las rutas que comercializaban el estaño y otros metales por parte de las entidades políticas ubicadas en el valle del Guadalquivir, razón aducida también para justificar el interés fenicio en la zona (Arruda, 1993, p. 207-208, 2002, p. 100, 223).
Sin embargo, otra razón hay que buscarla en la propia dinámica interna de las poblaciones tartésicas del bajo Guadalquivir y de la cuenca media del Guadiana, para las que se ha planteado que en el siglo VII a.C. se efectuaría una colonización agrícola de la tierra disponible dentro del marco de la aparición de núcleos verdaderamente urbanos en toda la zona, como sería el caso de Medellín en el curso medio del Guadiana, a causa de un proceso de marcado crecimiento demográfico (Almagro-Gorbea, 1990, p. 98-100, 1996, p. 67-68).
De hecho, podemos estar ante lo que Ruiz Zapatero (1995, p. 33-34) denomina "modelo
socioeconómico expansivo", definido por este investigador para explicar la expansión interna de los Campos de Urnas en la Península Ibérica. Así, la existencia de una nueva base subsistencial, que en la adaptación al área de Lisboa vendría dada por la adopción de introducción del cultivo de la vid y del olivo a la explotación agropecuaria del Bronce Final (Arruda, 2003, p. 208, 210, 215; Barros, Cardoso y Sabrosa, 1993, p. 166), una nueva organización social y un ritual funerario ligado al surgimiento de los primeros núcleos urbanos, como evidencian las necrópolis
de la Cruz del Negro y Medellín (Almagro-Gorbea, 1996, p. 64), y nuevos desarrollos tecnológicos, que aquí habría que vincular a la generalización de la metalurgia del hierro y, posiblemente, de la plata (Barros, Cardoso y Sabrosa, 1993, p. 159), serían lo suficientemente atractivas como para ser adoptadas por las poblaciones locales. Todo ello con un estímulo externo no necesariamente importante en términos demográficos, procedente desde el valle medio del Guadiana (vid. el siguiente párrafo), aunque la adopción de los topónimos en -ipo y de la escritura tartésica
en Alcácer do Sal sugiere incluso una sustitución lingüística que podría a su vez indicar un aporte demográfico importante.
Dentro de esta dinámica expansionista se efectuaría el poblamiento de la península de Lisboa desde el codo del Guadiana, a través de la zona de Beja hasta las desembocaduras de los ríos Tajo y Sado. En este sentido, el proceso recordaría mucho a la expansión vilanoviana y a la colonización etrusca de la llanura del Po por parte de los etruscos desde el siglo VI a.C. (Torelli, 1996, p. 44; Bartoloni, 2001; Bonghi Jovino, 2001; Sassatelli, 2001), en un proceso estructuralmente semejante de creación y consolidación de los núcleos urbanos.
De esta forma, se observa como sobre la población del Bronce Final caracterizada por las cerámicas con decoración bruñida propias de los estilos Lapa do Fumo y Alpiarça del valle del Tajo (Cardoso, 1995) se superpone ya en la Primera Edad del Hierro la llegada de un nuevo contingente demográfico, que tanto por su cultura material como por los topónimos usados deben ser consideradas tartésicas, que interaccionará con el sustrato local.
Así, se observa la discontinuidad entre las fases II y III del cerro del Castillo de Alcácer do Sal (Tavares da Silva et al., 1980-1981, p. 170 y ss., 210-211), donde a un horizonte de cerámicas a mano del Bronce Final se superpone a fines del siglo VII a.C. un numeroso conjunto de cerámicas orientalizantes tanto bícromas como de barniz rojo que muestran evidentes relaciones con las documentadas en Medellín y en el área onubense.
Esta cesura en el registro se observa igualmente en Almaraz, donde a un hábitat del Bronce Final con producciones cerámicas únicamente a mano se sobrepone otro con la misma cronología de inicio que Alcácer do Sal, fines del siglo VII a.C., con muestras evidentes de la llegada de una población alóctona a la zona considerada fenicia por Cardoso (1995, p. 52) pero que más bien habría que considera tartésica en función de la toponimia prerromana documentada en esta región portuguesa.
El panorama está menos claro en Santarém, aunque parecen existir evidencias de un nivel del Bronce Final en la Alcáçova sobre el que se superponen a fines del siglo VIII a.C. los niveles con materiales orientalizantes de tipología fenicia y a mano propios del bajo Guadalquivir (Arruda, 2002, p. 223), aunque aún es difícil comprender cuál ha sido la dinámica del proceso. En su conjunto, parece asistirse a un proceso de "colonización" tartésica en el que se asimilará la población
residente en la región en ese momento, dando lugar a la caracterización turdetana que va a poseer esta zona en las fuentes clásicas de los siglos I-II de la era.
Sin embargo, es difícil discernir si este proceso de colonización se efectúo por vía marítima a través de las costas atlánticas o, por el contrario, se produjo por vía terrestre a través del valle medio del Guadiana, que ya desde el Bronce Final presenta una notable homogeneidad de materiales con la baja Andalucía, como evidencian el lote cerámico hallado en el teatro romano de Medellín (del Amo, 1973; Almagro-Gorbea, 1977, p. 102-104, figs. 48-49) y por otros hallazgos en la actual provincia de Badajoz (Enríquez Navascués, 1990; Rodríguez Díaz y Enríquez Navascués,
2001, p. 112 y ss.).
No obstante, la vía terrestre constituye actualmente la hipótesis más económica, aunque debería ser confirmada por nuevos hallazgos en la franja de territorio portugués que se extiende entre la curva del Guadiana, precisamente frontera en el Bronce Final entre las cerámicas con decoración bruñida interna y externa (Enríquez Navascués, 1990, p. 76-77, figs. 2 y 5; Rodríguez Díaz y Enríquez Navascués, 2001, p. 116), y la península de Lisboa.
En este sentido, una etapa intermedia entre la desembocadura del Tajo y la cuenca media de este río, y quizá con la Extremadura, tal vez vendría marcada por el horizonte de la Edad del Hierro del yacimiento de Cachouça, aunque el material reseñado tras la una ocupación del Bronce Final parece señalar ya a un momento muy avanzado de la Primera Edad del Hierro, hacia mediados del siglo VI a.C., como sugieren las cuentas oculadas de vidrio, un amphoriskos del mismo material, una terracota quizá en forma de ave, una fíbula de apéndice caudal (¿tipo Acebuchal?)
y los platos y cuencos de borde engrosado fabricados en cerámica gris a torno (Vilaça, 2000, p.175; Vilaça y Arruda, 2004, p. 23-24), lo que no permite enlazar con los materiales de los siglos VIII-VI A. C. excavados en Santarém, Almada y Lisboa.
Todo ello llevaría a discutir finalmente la propuesta de otros investigadores de una migración precisamente desde estas áreas, Extremadura y el occidente de Portugal, hacia la baja Andalucía, ya porque ésta se hallaría despoblada (Belén y Escacena, 1992, p. 71), ya por la atracción económica ejercida desde el núcleo tartésico y que se vería plasmada en el área de distribución de las estelas extremeñas (Celestino, 1998, 2001, p. 276, 293). El proceso que se propone aquí es el contrario, con una expansión desde el área nuclear tartésica del bajo Guadalquivir en una primera
fase hasta la baja Extremadura y, posteriormente, hasta las regiones del centro de Portugal seguramente con la intención tanto de aliviar las necesidades de una población en expansión como de controlar las rutas por las que se comercializaban los metales atlánticos.
Por último, una dinámica similar puede plantearse también en la zona del valle medio del Tajo, donde también se fundarían colonias de poblamiento en lugares estratégicos de las principales rutas comerciales y vías de comunicación, explicándose así los materiales orientalizantes procedentes de Talavera la Vieja (Jiménez Ávila y González Cordero, 1999; Martín Bravo, 1999, p. 93-96, figs. 33-34) y del Cerro de la Mesa (Ortega y del Valle, 2004, p. 176-179), ambos situados en sendos vados del Tajo en las rutas que se dirigen hacia los pasos del Sistema central. Se trataría de una dinámica muy similar a la propuesta por Algaze (1993) para la expansión de Uruk
en Mesopotamia durante el IV milenio a.C. con el control de las principales rutas de comunicación fuera del núcleo de las principales entidades políticas mediante puestos de avanzada que servirían como colonias de poblamiento y como lugar de control de los flujos comerciales, una táctica que se extiende a otras civilizaciones en el momento en que se está produciendo el surgimiento del estado (Algaze, 1993a).
En definitiva, creo que se presenta un panorama coherente para una mejor comprensión
de las dinámicas de las sociedades protohistóricas de la Primera Edad del Hierro del sudoeste de la Península Ibérica, que muestran un panorama mucho más integrado que el normalmente presentado y en el que se valora la iniciativa y las acciones de las poblaciones locales en un momento de intensa interacción con las poblaciones coloniales fenicias presentes en la zona desde un momento temprano del siglo IX a.C. o incluso anterior, según demuestran las nuevas evidencias documentadas en Huelva (González de Canales, Serrano y Llompart, 2004)."