sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O que se ouve na TV

Uma conhecida marca de fraldas faz alarde no seu último anúncio televisivo - nos canais portugueses, atenção - de que os seus produtos terão sido testados pela Sociedade Espanhola de Pediatria.
Espanhola?

Vamos lá a ver, não tenho qualquer fobia e considero que, se há povo parecido com o nosso, é o espanhol... logo a seguir aos romanos (ah, Roma...).
Mas aí está. Se são parecidos, não haverá por aí qualquer instituição "tuga" que possa dar o seu crédito à coisa?
Ou se é para dar mesmo crédito, à séria, não prefeririam a chancela de uma Sociedade Alemã de Pediatria, de uma "British Association" ou coisa do género? As ditas fralditas, em vez de de meros contentores dos descuidos natais, até passariam a ser algo que "dá saúde e faz crescer".

Bem sei que para certas marcas e certas empresas fazer publicidade em Portugal por estes dias passa por traduzir anúncios de "nuestros hermanos". Mas deixem lá estar as associações deles. Já bastam as calinadas nas traduções e senhores cuja boca não se vê falar o que se lhe ouve.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A Guerra Colonial

Assisti ontem ao programa "Prós e Contras" da RTP, onde o tema principal era a Guerra Colonial portuguesa de 1961-74.
Como é habitual naquele programa, a bem das audiências, perde-se demasiado tempo com intervenções "bombásticas", normalmente muito pouco rigorosas e muito parciais. Velhos "ajustes de contas" entre partidários de ideologias obsoletas.

No entanto, também houve algo que valesse a pena (e que "pena" por vezes foi). Embora dificilmente se possa dizer que qualquer um dos intervenientes fosse o mais objectivo ou o mais politicamente neutral (em favor de um maior rigor histórico, quero dizer), confesso que fiquei agradavelmente surpreendido com os contributos do Coronel Matos Gomes. Surpreendido, obviamente, porque nunca li obra sua nem me recordo de alguma vez o ter ouvido.
Mas para um interessado pela História, como eu, foi de facto um prazer imenso ouvir quem tanto sabe sobre o assunto em questão, tanto como eu julgava não ser possível.
Foi, sem dúvida, o melhor do programa.

Debruçando-me agora sobre o assunto em debate, creio que muito terá ficado por dizer. Sobretudo para esclarecimento dos mais jovens (o mesmo é dizer, em termos de lições para o futuro). Infelizmente, como já referi, sobressaíram velhos ódios e rancores que as sucessivas gerações obstinadamente inculcam nas gerações seguintes, ansiando talvez por vinganças definitivas, desejando quebrar para sempre os ciclos da História pela força, como se tal fosse possível, muito menos desejável.

A minha opinião pessoal é fundada o mais possível nos factos históricos mas também temperada pelo enorme privilégio de conhecer ou ter conhecido - sendo familiar ou amigo - pessoas que viveram o período em causa de maneiras diferentes. Pessoas com convicções diferentes e sortes diversas, que muito estimo ou estimava (muitos já faleceram, infelizmente).
Que penso eu da Guerra Colonial? Ou, mais amplamente, da tentativa de estabelecimento de um império colonial - territorial, entenda-se - em meados do século passado? Simplesmente, foi um erro tremendo. Simplesmente, prejudicou milhões de pessoas e, mais importante para nós, portugueses, o futuro do nosso País durante décadas.

Dito aquilo, convém esclarecer alguns aspectos (que raiam as ideologias, mas vou tentar manter a distância). Ao considerar um erro, faço-o porque penso que, mesmo vivendo sob um regime fascista ou ditatorial (independentemente agora se era mau ou bom, brando ou radical), o nosso País poderia ter seguido outro rumo. Não por ser ou estar de um lado (neste caso, da "esquerda").
Não só isso como posso enumerar boas opções e excelentes obras que o regime de Salazar realizou, sobretudo nas primeiras décadas de existência. Com efeito, quando olho para as décadas de 30 e 40 do século passado, torna-se difícil compreender, por exemplo, como a Espanha conseguiu ganhar-nos tanto avanço (mais significativo nas últimas décadas, é certo - afinal de contas também estiveram na "cauda" da Europa). Enquanto no País vizinho travava-se uma guerra civil cruenta e devastadora, o governo português empenhou-se seriamente no desenvolvimento do País, nomeadamente com a construção de inúmeras infra-estruturas servindo fins diversos, de inquestionável utilidade social.

Tudo isso realça ainda mais o erro, porque foi sem dúvida uma inflexão clara e desastrosa. A partir de certo momento, abrandou ou cessou a construção de escolas, hospitais, estradas ou barragens, em território nacional - inquestionavelmente o nosso território "europeu" e as ilhas atlânticas por nós povoadas. Com flagrante impacto no Interior e na Madeira e Açores, o tempo voltou a parar, pura e simplesmente.
Que foi feito então aos que habitavam essas regiões? Os que puderam emigrar para outros países da Europa ou para a América, fizeram-no. Nos anos 50 teve lugar o maior êxodo da nossa História. Mais de 1 Milhão e meio de portugueses (e bem portugueses!) foram ajudar a enriquecer países terceiros com a sua tenacidade e afinco no trabalho. É justo dizer: que desperdício para Portugal! (e não fossem as remessas...).
Aos restantes, os que ficaram, foi então prometido um futuro de abundância em territórios longínquos, dispersos por este mundo, cujo conhecimento - o necessário e adequado para tal empresa - era ainda deveras deficiente.
Como se não bastasse, todos esses territórios eram habitados (nalguns casos, ao que parece, desde o início da Humanidade) por milhões de autóctones (é verdade, eram milhões), "naturalizados" portugueses não havia muito e, concerteza, com as suas expectativas e anseios relativamente aos seus novos governantes.
É verdade que a realidade era diversa, de território para território, mas sobretudo entre as faixas litorais (com contacto há muito mais tempo - séculos, nalguns casos) e o interior. No entanto, fazendo as contas à vastidão reconhecida e "conquistada" em meados do século passado, não deixava de ser uma realidade nova e perigosa, deixando-nos em verdadeira igualdade de "vantagens" (políticas ou culturais) com qualquer outro país europeu.

Os resultados de tal risco poderiam ser imprevisíveis. Mas o mais trágico é que nem imprevisíveis foram, precisamente porque países com uma capacidade económica e militar muitíssimo e inquestionavelmente superiores à nossa estavam, na mesma altura em que "colonizávamos" em força, a retirar. E a retirar, nalguns casos, após guerras sangrentas e exaustantes, ainda sem a intervenção tão activa que as potências da "Guerra Fria" vieram a ter na nossa guerra colonial - o que obviamente complicou o nosso "caso" e de que maneira.
Ora, mesmo sem apelar a conhecimentos de índole militar (que não os tenho), o que a História nos diz, hoje, é que tudo ou quase tudo se estaria a compôr para um desastre sem igual desde, talvez, Alcácer-Quibir.

[Claro que haverá quem, lembrando Alcácer-Quibir, afinal encontre nesta comparação a justificação de uma coisa boa (um grande acto de bravura ou coisa do género). Não peço para que me expliquem porque terá sido Alcácer-Quibir uma coisa acertada (????), mas ao menos porque não havia coisa mais acertada para fazer...]

Dito aquilo, não esgota porém tudo o que se pode e deve dizer sobre as acções militares ou, mais concretamente, sobre o patriotismo e a valia dos que responderam à chamada. Aliás, até digo, com a bravura demonstrada, dificilmente teríamos perdido a guerra em termos militares, tivesse ela continuado. Nisto concordo com quem não concordo em quase nada.
O problema é que o nosso patriotismo padeceu do que padeceu a Pátria, obviamente. De nação europeia com uma história grandiosa (que éramos e somos) quis-se o estabelecimento de um império à escala mundial, em distâncias tão longínquas, territórios tão diversos, sobre povos tão diversos...
Acaso não sabíamos, mesmo os que viveram (e nasceram) nas colónias, que a Pátria afinal era e é "aqui" e não "lá"?

Mas, se dificilmente teríamos perdido, é-me igualmente óbvio que, após 13 anos de guerra e salvo nalgum ou noutro local, dificilmente ganharíamos a guerra. Os factos da História encarregaram-se de demonstrar, infelizmente, que a guerra perdurou, sobretudo em Angola e Moçambique, durante quase mais 30 anos!
Não digo que, caso prosseguíssemos em guerra, levássemos esses 30 anos entre as balas e minas do MPLA, da UNITA, da RENAMO, da FRELIMO, etc. Mas sem dúvida teria morrido muito mais gente e, muito mais importante, a "saída" não deixava de ser uma: o fim da guerra por via diplomática.

Esse era o fim inevitável de um tremendo erro.
Quanto ao como acabou e tudo o mais, é outra história (outros erros, infelizmente).

Já aqui o referi, mais de 1 Milhão e meio de portugueses emigrados, mais meio milhão de portugueses que, aliciados pelas ilusões de uns, tiveram de deixar as suas vidas que construíram em África. Mais de 8 a 9 mil mortos entre militares do lado português e desconhecidos milhares entre civis (incluindo portugueses) e militares das outras facções em contenda (não sei a quem agradam mortes que se podem e devem evitar!). Milhares de ex-combatentes que foram arrancados das suas terras, sobretudo das regiões que já referi (onde os esperava a emigração ou a pobreza), que ainda hoje sofrem as consequências.
E não posso também de referir o aspecto económico, igualmente desastroso, como é fácil de concluir. E aqui relembro de novo a Espanha, que se desenvolveu sem "Ultramar", desenvolvendo a Catalunha, o País Basco, etc. E se o dinheiro de Cahora-Bassa, de escolas, hospitais, fábricas, igrejas, investido no "Ultramar", tivesse sido investido em Portugal - no verdadeiro Portugal?
Será que muitas pessoas fazem idéia do como eram certas regiões do País há 40 anos? (como eu vi, por exemplo, a Madeira de então!) Se ainda hoje algumas vivem com dificuldades, imaginem então...
[Quem queira entender, basta olhar para os números. Compare, a taxa de analfabetismo, a esperança média de vida, o número de escolas, de hospitais e postos de saúde, de universidades, de automóveis, televisões e frigoríficos por habitante, o PIB per capita, etc.]

terça-feira, 21 de agosto de 2007

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Como isto anda...

Estamos em Julho e isto não parece mesmo nada Julho. As malditas alterações climáticas... mais a consciência ecológica à pressa...
Ontem li um artigo sobre carros a hidrogénio e, mesmo que tivesse alguma imprecisão (parece tudo bom demais), fechei os olhos e sonhei.
Sem o ruído dos motores, água pura a pingar dos escapes...

sábado, 21 de julho de 2007

Ainda sobre as eleições...

Ficámos a saber que cerca de 62% dos eleitores lisboetas não votaram. E dos que votaram, cerca de 27% (ou seja 10.3% do total) não o fizeram por nenhum partido.
Em suma, mais de 72% ou não quiseram saber das eleições ou dos partidos.
Não será isto revelador? Ou preocupante?

Os 62% será porque não importa e é deixar andar ou é porque não há esperança?

quinta-feira, 19 de julho de 2007

António Costa é o novo Presidente da Câmara

O título diz tudo quanto quero, pois mantenho este blog afastado da política o quanto baste. Para informação.
Agora vamos ver como e com que celeridade se começam a resolver os problemas de Lisboa.
Dito isto, penso no que vi em mais umas férias na minha segunda terra, mas disso já vos conto, nos próximos dias.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Berardo

Acaba de ser inaugurado em Lisboa o Museu-Colecção Berardo (ou mais singelamente Museu Berardo), situado no espaço de exposições do Centro Cultural de Belém. É para visitar, sem dúvida alguma, para mais quando o meu meio-conterrâneo promete entradas gratuitas para os funcionários públicos... e sócios de clubes da Primeira Liga.

Sócios de clubes da Primeira Liga?!?!? Esta última benesse deixou-me a pensar, se não estará relacionada com alguma outra batalha do "wanna-be Gulbenkian" de Santa Luzia. Ele está em todo o lado, até diz que quer criar um Banco do Benfica... quando é assim, pode tudo. Até aparecer neste blogue, não tinha eu como resistir.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

O homem que inventou o "Multibanco"

O site da BBC online é dos poucos que visito com frequência diária, por considerar que tem qualidade e riqueza de informação (com o tradicional rigor). Também tem, todos os dias, algo que faça sorrir.
É o caso deste artigo, que nos fala do senhor que inventou as caixas "Multibanco", em 1967. Ficamos também a saber que o PIN tem quatro dígitos porque a esposa do senhor disse que era melhor assim, à conversa na cozinha. Tudo "very British", no sentido mais simpático possível:

http://news.bbc.co.uk/2/hi/business/6230194.stm

segunda-feira, 11 de junho de 2007

A Feira do Livro

Este ano nem tive tempo de escrever umas linhas sobre a Feira do Livro... senão agora, quando já terminou.
Não falhei com uma visita, embora fugaz, pois foi num Sábado de tórrida soleira e só a "juventude" lá de casa teve direito a livros novos, o que já não é mau (ou por outra, é muito importante).

No entanto e pelo que ouvi (nomeadamente, na televisão) a Feira de 2007 parece que foi bastante boa para os editores e livreiros. Em vez das habituais queixas, quase automáticas, ouvi palavras de optimismo e de agrado.

E o Site Oficial da Feira (que por sinal está bastante bom) confirma:

Uma das maiores Feiras de sempre
A 77ª Edição da Feira do Livro de Lisboa
encerrou no Domingo, dia 10 de Junho, com um balanço francamente positivo.

De acordo com os participantes na edição deste ano foi visível um
aumento significativo no número de visitantes e no volume de vendas. De uma
forma geral o volume de vendas aumentou cerca de 20% e em alguns casos atingiu
mesmo os 40%. Passaram pela Feira milhares de autores, para sessões de
autógrafos, entre eles: José Saramago, António Lobo Antunes, Lídia Jorge,
Batista Bastos, Moita Flores, José Luís Peixoto, Galopim de Carvalho ou
Margarida Rebelo Pinto.

A grande festa do livro reuniu, assim, autores,
editores e leitores, e deixou bem clara a sua importância no contexto da
dinâmica cultural da cidade. A comprovar esse facto registe-se ainda a
importância dada ao evento pelos candidatos às próximas eleições camarárias, que
responderam positivamente ao convite dirigido pela APEL, Associação Portuguesa
de Editores e Livreiros e compareceram no Parque Eduardo VII, para visitar a
Feira e reunir com a organização.


Independentemente da qualidade do que mais se vende (sobretudo dos "best-sellers") parece-me que quase todos os géneros têm procura. E a Internet, em vez de substituir, tem estimulado ainda mais a curiosidade pelos livros (já quanto à imprensa "escrita" não se pode dizer o mesmo).

Já agora, uma sugestão. Uma vez que os pavilhões até estão mais "juntinhos", porque não improvisar uns telheiros/coberturas. Em dias de sol intenso há muitos que desistem não por preferirem a praia, mas porque caminhar acima e abaixo no Parque torna-se insuportável. E em dias de chuva...

Mas que a Feira fique no Parque, que está muito bem...

Está de parabéns António Baptista Lopes, actual presidente da APEL (que tem outra grande virtude, a de ser meu consócio).

sexta-feira, 8 de junho de 2007

domingo, 3 de junho de 2007

Estava a adivinhar

No artigo anterior falava eu em Câmara e em futebol, eis senão quando as duas coisas se cruzam de novo - para meu desgosto.
Parece que o Belenenses está há um ano à espera de uma licença sem a qual não poderá utilizar o Restelo para as competições europeias da próxima época e, para piorar a coisa, a alternativa é Alvalade (será que se Sporting ou Benfica não pudessem usar os seus estádios jogariam no estádio do vizinho de 2ª circular?).

Quer-me parecer que o meu clube, para não variar, foi demasiado sereno e demasiado "correcto" com a questão. Haverá muita coisa empatada com este sarilho na Câmara, mas não acredito que seja tudo.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Vespeiros

Uma situação é "off-season", outra bem dentro da respectiva "season". Ambas "silly" quanto baste.

A primeira diz respeito a Lisboa: as eleições fora de tempo (muito literalmente falando), qual pau em vespeiro que lá fez saltar os bicharocos, a esvoaçar, agressivos e ao magote. Avançam os clubes do costume, perdão, os partidos, mais uns independentes ex-não-tão-independentes-como-isso.
Os que esperam ganhar prometem o que há a prometer, os que pretendem só um ou dois lugarzinhos prometem ser pedra no sapato, mesmo quando fizer falta que o pé ande confortável.
Muito preocupante é a situação das finanças, como todos sabem, mas sinceramente não vejo grandes melhorias para breve. Toda esta conversa faz-me lembrar os clubes de futebol (até porque loucas despesas com certos clubes também fazem parte do rol camarário).

Por falar nisso, passo à "silly-season" do futebol, outro circo que acaba de começar (este sim, no tempo habitual). É incrível o quanto se escreve nos diários desportivos sobre saídas e contratações. Não é preciso muita atenção para perceber que 90% do volume de rumores não passa disso mesmo, um volume de rumores. Ou "como vender jornais desportivos quando não há jogos" - é dar "palha".
Funcionasse assim a Bolsa de Valores e haveria muito mais gente rica. E muito mais gente pobre, claro (a matemática da distribuição de riqueza não dá abébias), mas eu sou dos que não dão para esse peditório. Em "season" morta do futebol, não compro jornais desportivos (e no resto da época bem poucos).

Numa e noutra situação, o melhor é esperar que a poeira assente. "Que sera, sera". E que o Belenenses ganhe.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Força Belenenses!

"Honrae o sport, porque quem honra o sport ganha sempre, mesmo quando perde"

Quem disse isto em 1921 foi o distintíssimo Mário Duarte, primeiro guarda-redes do Belenenses, que de perdedor não tinha nada (para que entendam bem aquelas palavras) pois foi ele que levantou o primeiro troféu da história do Clube.

Fui ver o meu Belenenses ao Jamor numa final alfacinha. Perdemos mas lutámos e saímos com toda a dignidade. Derrotas destas só vão tornar ainda mais saborosas as próximas vitórias!

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Igrejas de Lisboa (I): S. José dos Carpinteiros

Respondendo a um desafio (familiar) de escrever sobre as igrejas da Baixa de Lisboa - alertando sobretudo para o estado de degradação e olvido a que estão votados alguns templos - inicio hoje mais uma série (espero eu) de artigos versando precisamente sobre as igrejas de Lisboa (não apenas da Baixa).

Irei começar pelo que se pode considerar a fronteira Norte da Baixa, uma zona que em tempos remotos se situava à saída das portas da cidade. Começo pela Igreja de S. José dos Carpinteiros, sita na Rua de S. José (próximo do Largo da Anunciada).


A origem desta igreja deve-se à fundação, em 1532, da Confraria de S. José, formada por carpinteiros e pedreiros. Uma das razões plausíveis para a sua fundação poderá ter sido a ocorrência do violento terramoto de 1531 (tantas vezes ofuscado pelo de 1755 mas que foi tão ou mais devastador), a que se seguiu um grande esforço de reconstrução. É natural que nos tempos seguintes tivesse aumentado significativamente o número de mestres naqueles ofícios, ao ponto de terem a sua própria confraria.
O nome de S. José é óbvio, uma vez que o Santo carpinteiro era (e é) o respectivo padroeiro.

Numa fase inicial, porém, a Confraria instalou-se na Igreja de Santa Justa e Santa Rufina. Só em 1546 é que a Confraria construíu uma ermida para seu uso exclusivo, e custeada exclusivamente pelos seus confrades. Ficava fora das portas da cidade (no caso vertente, à saída das Portas de Santo Antão), na zona então chamada de "Entre-Hortas", pois como já escrevi noutra altura, no lugar da actual Avenida da Liberdade existiam apenas pequenas hortas, canaviais ou descampados.
Chamava-se naquela altura Ermida de S. José dos Carpinteiros ou de S. José de Entre as Hortas e seria no lugar deste templo primitivo que mais tarde seria construída a actual Igreja de S. José dos Carpinteiros.

Em 1567 o Cardeal D. Henrique (que viria a ser regente e Rei - o último da dinastia de Avis, se não considerarmos D. António, Prior do Crato) decidiu dividir a imensa freguesia de Santa Justa (onde se encontrava a Ermida) criando a Freguesia de S. José, cuja sede paroquial (e de freguesia) passaria a ser, precisamente, a ermida dos confrades carpinteiros (que assim forneceu o nome de baptismo da nova freguesia).

Passado pouco tempo os confrades decidiram ampliar a "ermida" (que se mantinha como sede paroquial), novamente a despesas próprias, tornando-a finalmente numa igreja.
Foi nessa ocasião que a Igreja de São José passou a ocupar o espaço que actualmente ocupa.

Com o terramoto de 1755 a Igreja de S. José sofreu alguns danos, mas não os suficentes para impedir a sua reparação. Sob a orientação e trabalho do mestre-pedreiro Caetano Tomás a Igreja de S. José assumiu o aspecto barroco-pombalino que tem hoje.
Também após 1755 foi pedido à Confraria dos Carpinteiros e Pedreiros que acolhesse na sua Igreja as reuniões da "Casa dos 24". A Casa dos 24 era o conselho corporativo instituído por D. João I (em 1383) que reunia 2 representantes dos 12 ofícios mais importantes de Lisboa. Teve um papel importantíssimo na mobilização da população da cidade para resistir às pretensões dos castelhanos e apoiar a causa do Mestre D'Avis. A Confraria dos Carpinteiros e Pedreiros (ou de S. José) estava naturalmente representada na Casa dos 24 (era a 7ª bandeira da Casa).

Durante o período Filipino, a actividade da Casa dos 24 chegou a ser suspensa, e por altura da Restauração já quase só a Confraria de S. José se mantinha organizada.
Após a Restauração também a Casa dos 24 foi "restaurada" como era antes.
Isto até 1834, altura em que a Casa dos 24 foi finalmente extinta, pois a Constituição Liberal de 1822 proibia as corporações de artes e ofícios.

Depois de extinta a Casa dos 24 (em 1834) foi criada a Irmandade de Ofícios da Antiga Casa dos 24 de Lisboa, que até hoje continua sediada na Igreja de S. José dos Carpinteiros (tal como a Confraria de S. José dos Carpinteiros). A Irmandade é uma "associação pública de fiéis católicos, com personalidade canónica e civil", assumindo portanto um papel eminentemente religioso (enquanto as antigas confrarias faziam ao mesmo tempo as vezes de ordens profissionais, sindicatos ou até facções de partidos)...
Ao que soube, o Juiz Presidente da Irmandade é o Arq.º Gonçalo Ribeiro Teles, figura sobejamente conhecida dos lisboetas.

Quanto à antiga bandeira da Confraria dos Carpinteiros e Pedreiros, o actual Sindicato dos Agentes Técnicos de Arquitectura e Engenharia recuperou o seu emblema, como podem ver aqui:


Depois de tudo isto, falando de corporações de carpinteiros e pedreiros, mais o compasso e afins, ainda se poderá pensar que há aqui algo da Maçonaria. Há algo de comum, obviamente (a origem, pois no Norte da Europa Medieval eram importantíssimas as corporações de ofícios, entre as quais a dos pedreiros), mas a Confraria e Irmandade são e sempre foram claramente instituições exclusivamente do "mundo" Católico. Além do facto de a Confraria de S. José ser bem anterior à chegada dos "pedreiros-livres" a Portugal, teve certo apoio do Cardeal D. Henrique (como já referi), numa altura em que era, nem mais nem menos, o Inquisidor-Mor do reino. Não me parece que fosse dado a grandes "desvios".

Para finalizar, deve-se referir que a Igreja de S. José dos Carpinteiros foi classificada como Imóvel de Interesse Público.

Para saber mais sobre esta Igreja e ver fotografias recomendo:
Pesquisa no Inventário da DGEMN - basta inserir "carpinteiros" no campo "Designação".
Entrada no Inventário do IPPAR - página sobre o conjunto da Igreja
Página da Junta de Freguesia de S. José - conta-nos a história da freguesia e paróquia, mas também tem um apartado dedicado à Igreja de S. José dos Carpinteiros

Quanto ao estado de conservação da Igreja, parece-me bastante satisfatório (a avaliar pelas fotografias), talvez a precisar de umas pinturas.
O interior, com azulejos, pinturas e ainda um presépio, é rico e vale uma visita sem pressas. Para quem passar pelo exterior (e muitos de nós passarão frequentemente), mesmo com pressa, vale a pena deter-se e reparar no portal. É daquelas coisas com que nos deliciamos ao passear pelo estrangeiro, mas cá também temos!

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Câmara Municipal em piruetas

Desde o início prometi que trataria o menos possível de assuntos de política, mas há alguns que entram pela vista adentro e merecem algumas palavras.
O que se passa agora com a Câmara Municipal de Lisboa é sem dúvida insólito e também, sem dúvida, nada bom para a cidade. Mesmo que o funcionamento básico da CML e dos seus serviços não sejam afectados (espero que não).
O que sabemos é que neste momento todos os Vereadores estão ocupados com uma mesma questão política, e pouco mais.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Eleições no Melhor do Mundo

O passado fim de semana foi de eleições no mui alfacinha e mui português Clube de Futebol "Os Belenenses", emblema a que Deus Nosso Senhor me concedeu a Graça de poder pertencer e que, entre outras benesses, permitiu-me passar uma noite de Domingo dedicada a coisas verdadeiramente elevadas para o espírito.

Com mais de dois mil sócios a acorrerem à urnas no Pavilhão Acácio Rosa (aquele "serrano" que tanto fez pelo desporto em Lisboa), foi reeleito Cabral Ferreira, que promete continuar a boa senda desta época, à boa maneira do Belenenses, isto é, sem craques, sem alaridos, sem "apitos", sem dinheiro por aí além e sem apoios municipais/regionais ou do Estado.
E no outro dia, na meia-final da Taça, cantou-se nas bancadas do Restelo "Cheira bem, cheira a Lisboa"...
O Belenenses tem adeptos de Norte a Sul e nas Regiões Autónomas, mas gosta de honrar o seu berço, como clube de gente de bem (e não de gente "bem", como muitos pensam).

De ouvido - Franz Ferdinand

Datam de 2004 e 2005 os dois álbums dos escoceses Franz Ferdinand, que desde então têm feito furor. Mas como o furor normalmente não me chega, levei algum tempo até me decidir pela sua aquisição, já com uma baixa expectativa de arrependimento... que efectivamente não sinto. É "boa malha" sim senhor.

Comecei pelo fim, isto é, pelo segundo álbum intitulado "You Could Have It So Much Better". Agradou-me de sobremaneira.
Fiquei de aviso para quando encontrasse o primeiro, o que veio a acontecer há poucos dias. Já tinha lido algures que nada ficava a dever ao segundo... e assim é.

É deveras refrescante o som dos Franz Ferdinand no actual panorama musical, uma vez que retoma excelentes referências de outros tempos, com segurança e novidade quanto baste, contrabalançando a tendência para a qual resvalou a "brit-pop".

A voz e certas músicas fazem sem dúvida lembrar os Pulp, mas a forte presença das guitarras, mais "agresivas", puxa mais para o lado de bandas como os Strokes, com um cheirinho aqui e ali (mais "soft") de Blur ou Talking Heads (e ainda bem, porque não era fã por aí além dos Pulp). Nas letras e também na voz há ainda um certo ar "morrisseiano" e por isso não estranha que já tivessem feito aberturas de concertos do ex-Smiths.
Misturando tudo, curiosamente, lembrei-me de uma outra banda (e pelos vistos não fui o único): os velhinhos Kinks. Afinal de contas, escuto nos Franz Ferdinand o mesmo género de rock que foge das massas (ou não chega lá) mas que não enjeita uma boa dose de lirismo. Acrescente-se a dançabilidade e reencontram-se dois estilos com a mesma origem mas que andaram desavindos, um pelos terrenos do punk e afins, outro pelos terrenos da mais ligeira pop. Isto embora os FF prestem juramento ao Pop, mas bem sabemos como há Pop e Pop...

O som dos FF não engana e dá para lavar e durar. Por isso recomendo.
E é bom encontrar novas bandas que sem serem exactamente "retro" vão buscar o que há de bom no baú de recordações e põem-no como novo. Agora não estraguem o produto, começando pelas capas dos discos, que não precisam de mais nada. É aquilo e chega.
Consta que estão a escrever novas canções e por isso preferiram quase não sair à rua este ano, porque já estão fartos de repetir sempre as mesmas músicas nos concertos. Também é um bom princípio.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Morreu Rostropovich

Morreu hoje Mstislav Leopoldovich Rostropovich, o famoso e virtuosíssimo violoncelista russo que, certo dia, já não sei bem quando, vi e ouvi tocar em Lisboa - entre outras obras, o monumental Concerto para Violoncelo em B menor de Dvorak (que já antes disso constava na minha colecção de CDs, em gravação da Erato, um excelente disco recomendável a todos os melómanos).

O Mundo também o ficou a conhecer melhor quando resolveu interpretar obras de Bach junto ao Muro de Berlim ao mesmo tempo que os berlinenses, naquela jornada histórica, destruíam a barreira que durante anos separou o Leste do Ocidente. O Leste que viu nascer Rostropovich e o Ocidente que o acolheu devido às suas convicções.

Nasceu em Baku (no Azerbeijão) e foi aluno de grandes mestres, entre os quais os geniais Chostakovich e Prokofiev. Morreu em Moscovo.
Até o gélido e ex-KGB Putin lamentou a perda.
Nós também...

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Vai abrir o túnel...

Amanhã será finalmente inaugurado o famoso Túnel do Marquês, após isto (retirado do Diário Económico):

- Custo: cerca de 19 Milhões de Euros (ainda não definitivos)
- As obras tiveram início a 18 de Agosto de 2003 e duraram 43 meses
- Revestimento Cerâmico: aproximadamente 1.4 milhões de azulejos
- Iluminação: 1.200 lâmpadas
- Número de Trabalhadores: 100/dia em média, num total de 19.628 horas.
- Comprimento Total: 1.725 metros.
- 3 Entradas e 6 saídas.
- Estacas: 2 mil.
- Tráfego esperado: 50 mil veículos/dia

Em jeito de redacção escolar, diria que a inauguração do Túnel do Marquês é muito boa notícia, muito importante, porque vai ajudar a resolver um dos mais graves problemas de Lisboa: o das obras do Túnel do Marquês.

Estive à procura de um diagrama ou planta para saber onde é que se pode entrar e sair do túnel, mas não o encontrei. Espero que não me faça falta.

Ligeira reformulação

Por ser evidente a minha dificuldade em preencher este espaço com conteúdos unicamente dedicados a Lisboa decidi alargar um pouco o âmbito deste espaço.
À mesma resisto à tentação de transformar este blog... num blog. Isto é, um espaço mais intimista, de desabafos, enfim, um verdadeiro "diário em rede" (afinal a tradução de "web-log", há muito mastigada para "blog").
Mas andará lá perto.

Mesmo sem que haja relação directa com Lisboa, pretendo colocar aqui mais prosas sobre música, cinema e livros. É isso.
Só para não estranharem, que o dono do estabelecimento continua a ser o mesmo!

segunda-feira, 26 de março de 2007

E os "maiores" dos portugueses são...

Já que iniciei uma rubrica inspirada no "concurso" promovido pela RTP sobre os "Grandes Portugueses" e uma vez que esse tal "concurso" terminou, achei que valia a pena uma breve nota.

Continua sendo minha intenção manter a política afastada deste blogue o mais possível. Não é que despreze ou menospreze a dita ciência (ou, pelo menos, parte dela), mas ela simplesmente estraga - e é esse mesmo o termo - o "ambiente" que aqui quero. De contemplação, reflexão, ponderação, rigor e certa erudição (a que é possível, dentro das minhas fracas possibilidades). Não de luta pelo poder (ou vinganças pela dita), que por mais voltas que se dê, é no que descamba.

Bom, mas uma coisa que prezo muito é o rigor. E, quando possível, o rigor minimamente científico. Para o caso vertente, um rigor que se traduza na menor perturbação possível do que é a realidade, com um mínimo de interferências dúbias ou manipulações.
Fiel a esses preceitos, publico em seguida aquela que considero ser a lista mais fiável relativamente aos 10 grandes portugueses seleccionados para serem os "maiores". Já que a eleição por números de telefone é obviamente falível, para mim é esta a "classificação" que conta, embora não abranja todo o universo admissível e embora estivesse sujeita a uma pré-selecção um pouco mais "limpa", mas ainda assim falível. Ela é o resultado do estudo de opinião efectuado pela RTP.

E assim, aquele que os portugueses escolheram como seu maior dos maiores é:
D. Afonso Henriques (21,0%)

No restantes lugares de honra (3º e 4º):
Luís Vaz de Camões 15,2%
Infante D. Henrique 11,2%


Seguindo-se:
D. João II 10,5%
Fernando Pessoa 8,8%
Marquês de Pombal 7,6%
António Oliveira Salazar 6,6%
Álvaro Cunhal 6,3%
Aristides Sousa Mendes 5,9%
Vasco da Gama 2,4%

Como referi acima, esta lista de 10 resultou de uma outra selecção, sobre a qual também tenho sérias reservas (dois que ali estão por mim não estavam - por sinal foram os dois primeiros na pseudo-votação por nºs de telefone). Porque não ficaria bem comigo mesmo, publicarei em seguida alguns dos nomes que não chegaram aos 10 mas que merecem a minha maior admiração, por diversos motivos. Vejam isto como um orgulho de ser compatriota deles, nem mais nem menos. Dos outros, não tenho, pelo menos em especial.
A ordem é a da votação referida, não a minha. Para mim, são todos grandes:
SALGUEIRO MAIA
SANTO ANTÓNIO
AMÁLIA RODRIGUES
NUNO ÁLVARES PEREIRA
JOÃO FERREIRA ANNES DE ALMEIDA
AGOSTINHO DA SILVA
EÇA DE QUEIRÓS
EGAS MONIZ
D. DINIS
HUMBERTO DELGADO
PEDRO NUNES
PADRE ANTÓNIO VIEIRA
D. JOÃO I
SOPHIA DE MELLO BREYNER
PADRE AMÉRICO
ANTÓNIO DAMÁSIO
AFONSO DE ALBUQUERQUE
D. MANUEL I
JOSÉ SARAMAGO
CARLOS PAREDES
PEDRO ÁLVARES CABRAL
PADEIRA DE ALJUBARROTA
ALMADA NEGREIROS
ÁLVARO SIZA VIEIRA
SOUSA MARTINS
PADRE ANTÓNIO ANDRADE
D. LEONOR
ROSA MOTA
ANTÓNIO TEIXEIRA REBELO
D. AFONSO III
VÍTOR BAÍA
BARTOLOMEU DIAS
D. MARIA II
CARLOS LOPES
AFONSO COSTA
FONTES PEREIRA DE MELO
GAGO COUTINHO
MANUEL SOBRINHO SIMÕES
ANTÓNIO LOBO ANTUNES
GIL VICENTE
MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA
MIGUEL TORGA
NATÁLIA CORREIA
EDGAR CARDOSO
FERNÃO MENDES PINTO
ALFREDO DA SILVA
PEDRO HISPANO
DAMIÃO DE GÓIS
D JOÃO IV
ADELAIDE CABETE
ALMEIDA GARRETT
ANTÓNIO GENTIL MARTINS
MARIA JOÃO PIRES

E falta ainda muito boa gente...
Observando outros nomes que constavam na lista dos 100, já se via que a cultura e a educação sobre a história do País andam mesmo por baixo. Pinto da Costa à frente de Damião de Góis? Alberto João Jardim à frente de Almeida Garrett? Vitor Baía à frente de Bartolomeu Dias? O "gato fedorento" à frente de Bocage?
Até qualquer um dos beneficiados se sentiria incómodo com tamanha e tão bruta ignorância...

Francamente, algo está a falhar em Portugal, e podem começar logo pelo serviço público, no caso em apreço o da RTP, embora este programa tenha ajudado a divulgar muito da nossa história e eu tenha lido e ouvido depoimentos interessantíssimos, como neste último programa. Alguns deles, ficaria muito mais tempo a ouvi-los, com grande deleite (e num ou noutro caso, para minha surpresa).
Quanto ao resto, uma brincadeira, claro.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Os "grandes portugueses" e Lisboa (1ª parte)

Não vou discutir os fundamentos e a legitimidade que assiste à eleição promovida pela RTP, sobre os "Grandes Portugueses". Da mesma forma evitarei tomar qualquer partido. O objectivo do presente é tão só evidenciar a ligação de cada um dos 10 "Grandes Portugueses" eleitos para a fase final com a cidade de Lisboa, que por ser capital de Portugal, está naturalmente presente na biografia de todos.

Comecemos por saber quem daqueles dez era "alfacinha": dois poetas e dois reis.

Desses quatro, aquele que poderá ser considerado o mais "alfacinha" de todos é Fernando Pessoa, não só porque nasceu e morreu nesta cidade - obviamente - mas por toda a sua vivência e obra, ao ponto de existir uma "Lisboa Pessoana" (que é sem dúvida uma das mais fascinantes, senão a mais fascinante de todas as Lisboas alguma vez concebidas).
Nasceu num prédio no Largo de São Carlos, foi baptizado na Igreja dos Mártires, no Chiado e faleceu no Hospital de São Luís dos Franceses.
Como se não bastasse, ficou a sua figura para sempre "presa" a Lisboa no corpo da famosa estátua que existe no Chiado, n'A Brasileira, que é especialmente popular para fotografias de pose de quase toda a turistada que passa, muita dela porventura sem fazer a mínima idéia de quem se trata. Seria engraçado conhecer a opinião de Pessoa sobre o assunto!
Em Lisboa existe também a casa-museu Fernando Pessoa (Rua Coelho da Rocha), promotora de frequentes actividades culturais e dotada de espólio diverso, onde se incluem pinturas de autores com Almada Negreiros. De referir que, exceptuando a traça exterior e o último quarto onde viveu o poeta, todo o restante do edifício é de arquitectura moderna.

O outro poeta é Luís Vaz de Camões, embora neste caso não haja certeza quanto ao facto de ter nascido em Lisboa, embora seja a naturalidade normalmente sugerida. Certeza há que morreu em Lisboa.
Viveu em pleno a época das Descobertas, tendo viajado por meio mundo em variadas peripécias. Essa vastidão de horizontes justificou a grandeza da sua obra em todos os aspectos, a par do excelente conhecimento das obras de autores clássicos.
Em contrapartida, as estadias de Camões em Lisboa foram sempre atribuladas, entre os píncaros e a miséria, granjeando pelo meio fama de inveterado boémio.
Camões entrou para a toponímia lisboeta já nos finais do século XIX, quando foi inaugurada a sua estátua (magnífica, por sinal) no largo que tem hoje o seu nome, no coração fervilhante daquela parte da cidade (reconhecível até no cinema, como no clássico "O Pai Tirano"). O largo passou mesmo a ser conhecido apenas como "o Camões".
Mais recentemente chegou a estar "o Camões" (isto é, a estátua) fora do lugar, para que se procedesse à construção de um parque de estacionamento subterrâneo (com tanto lugar...). Com as obras descobriram-se vestígios do que já se sabia ter ali existido, como as ruínas do Palácio do Marquês de Marialva, que foi destruído e parcialmente soterrado devido ao terramoto de 1755, e até vestígios de ocupação romana.
É também em Lisboa que está sediado o Instituto Camões, dedicado ao ensino e divulgação da língua portuguesa no Mundo. Lembra o Instituto Cervantes espanhol, mas com uma diferença importante: é que Camões esteve mesmo na maior parte dos sítios onde a língua portuguesa chegou há 500 anos atrás (que ele também a levou!).

(continua)

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Era em... Alcântara


É a resposta à questão colocada no anterior post: a fotografia apresentada, com data aproximada do ano 1912, é do vale de Alcântara e da antiga ribeira hoje "encanada". Ao fundo vê-se a "Ponte Nova", que por certo seria bem mais recente que a antiga (embora nenhuma delas exista hoje em dia) que deu nome ao lugar. Porque Alcântara vem do árabe Al Qantarah, que siginica, precisamente, a ponte. Pelo menos já desde o tempo dos árabes que ali deveria existir uma.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Era assim... onde?

Por entre casario velho e rústico serpenteia uma ribeira onde as lavadeiras lavam a roupa. Era assim, era em Lisboa? Onde?

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Lisboa é (em castelhano e catalão)

Coisas que se encontram na internet:

Lisboa es la ciudad abierta al mar, que siempre marcó su destino
Lisboa es una capital privilegiada, a orillas de uno de los más bonitos estuarios de Europa
Lisboa es el nada nunca jamás. Lisboa es para llorar, puro destino y llanto, fado y luz de lágrima. Pero al mismo tiempo es una inmersión radical en la alegría
Mi impresión general de Lisboa es la de "tiempo detenido" es como si la ciudad se hubiera congelado en los años 50, con sus edificios de colores, bien cuidados y muy coquetos, y se hubiera despertado 50 años después con hambre de modernidad y grandes edificios modernos salpicandolo todo, pero con gusto estético y harmonía. Se puede ver un edificio en perfecto estado de unos 100 años junto con un edificio abandonado y un gran edificio moderno colindante, es una ciudad de contrastes pero con encanto.
Lisboa es una romantica ciudad llena de nostalgia por un glorioso pasado. En mi limitado entendimiento de una tan sobrecogedora tradición, siento que Lisboa es el Fado hecho arquitectura, y el Fado como Lisboa hecha canción
Lisboa es cosa "boa"
Lisboa es una ciudad que no se olvida… es un destino que no debe faltar para aquellos espíritus que todavía buscan encontrar en el viaje un tiempo hecho para el disfrute de la calma, la poesía y la belleza
Lisboa es la promesa nunca cumplida de un pasado mejor, pero del que uno nunca sabe a qué atenerse
Lisboa es bellísima, altiva y ruinosa también, como mi Habana
Lisboa es el fin. Aquí llegan todos los caminos (las autopistas, los trenes, y nuestra pequeña ruta de la fantasía) y todos terminan hechos agua, fundiéndose con el mar. No hay nada más allá. Antes, cuando la Tierra era plana, aquí se acababa el mundo, y aun hoy las cosas no han cambiado tanto.
Lisboa late a fuego lento, suave, dulce
Lisboa es bella, pero no con la belleza clara y objetiva de otras ciudades, Lisboa es bella en su tristeza, en su mantenerse en píe a pesar de haberse caído. Lisboa sucumbe a los terremotos y sigue siendo bella si se sabe vislumbrar su maravilla
Lisboa és una ciutat per ser mirada des de totes les perspectives
Lisboa es el secreto mejor guardado de Europa
Lisboa es una tierra que provoca añoranzas para el resto de la vida, fina, acogedora, educada, rebozante de cultura, inteligencia y arte en cada calle, en cada callejón; en las plazoletas, plazas, las laderas, los terraplenes, las callejuelas o avenidas, en el morro del Castillo o a las orillas de Tejo
Lisboa es una de las pocas capitales europeas que todavía conserva el encanto de otros tiempos
Lisboa es una de esas ciudades que cambia de atmósfera y de color a merced de la luz del día

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

E Feliz Ano Novo!

Mais uma volta que este nosso planeta completou à volta do Sol... é isso o que é mais um ano!
Muitas e boas dessas voltas para todos!