segunda-feira, 23 de março de 2009

Igrejas de Lisboa (II): Igreja Paroquial de S. José ou da Anunciada

Dois anos depois, retomo a projectada série de artigos sobre as Igrejas de Lisboa, até hoje resumida a uma entrada apenas, da Igreja de São José dos Carpinteiros. Desta vez passo a outra Igreja da mesma freguesia (relacionada com a anterior, como veremos), não muito longe da primeira, ao Largo da Anunciada.

Trata-se de uma Igreja relativamente "recente" (final do Século XIX), não classificada (ao que sei), e sobre a qual o interessante "sítio" da Junta de Freguesia de S. José é praticamente o único que nos oferece informação:

Construída pela irmandade do Santíssimo Sacramento para sede da paróquia que desde 1567 estivera na igreja de S. José dos Carpinteiros. A sua construção iniciou-se em 1863, ficando concluída em 1883. De um projecto de Tomás da Fonseca, e alterado em 1868 por Domingos Parente, é uma igreja sem nave. A Parente se deve a fachada lateral de três corpos sobre a Rua de S. José. A partir de 1881 a obra passou para a direcção de José Monteiro até à sua conclusão. O resultado final tem pouco a ver com o projecto original.


(...)

A igreja foi construída no local onde estivera o mosteiro dos frades Agostinhos, que em 1539 o cederam por troca às freiras Dominicanas da Nossa Senhora da Anunciada, que se transferiram para este local da sua primitiva fundação na Costa do Castelo, e que ficou completamente arruinado pelo terramoto de 1755.

Com a instalação das freiras Dominicanas de Nossa Senhora da Anunciada, o nome destas passou ao local onde se situava o mosteiro, e à rua que junto dele seguia.

Esse local foi marcado, no Plano de divisão das freguesias de 1770, no sítio da arruinada igreja do mosteiro e como o terreno pertencia às freiras deste mosteiro, que, tendo-se transferido depois do terramoto para o convento de Sta. Joana, formando com outras a comunidade de freiras desta invocação, a irmandade do S. Sacramento, erecta na freguesia de S. José comprou-o às freiras, por escritura de 25 de Maio de 1765.

(...)

A Igreja foi projectada em 1793, tendo o arquitecto António Fernandes Rodrigues feito um aparatoso projecto que não se executou por demandar grandes despesas. Fez-se depois um novo projecto, que não sendo tão custoso, era contudo elegante.

Começou-se então a construção da nova igreja, mas as obras caminharam com tão pequeno entusiasmo durante todo um século que só em 1862 ou 1863, segundo consta, é que receberam maior impulso, sem que todavia lograssem a conclusão do templo.

Em 1883, apesar dos trabalhos não estarem concluídos, pois faltava ainda construir o corpo da igreja e o coro, foi benzida em 12 de Agosto e para ali se transferiu a freguesia a 15 de Agosto do referido ano de 1883, ficando a antiga igreja de S. José entregue à sua irmandade, continuando ali a exercer-se o culto. Parece que divergências que se deram entre esta irmandade e do Santíssimo abreviaram a mudança da Freguesia.
Como pontos de interesse, ficamos a saber que no local já teriam existido outros edifícios religiosos, primeiro de frades Agostinhos, depois das Irmãs Dominicanas da Nossa Senhora da Anunciada - invocação que sobreviveria, ficando o mosteiro completamente arruinado pelo terramoto de 1755. Dos Agostinhos Descalços de Santo Antão ficou a evocação deste último Santo, no nome da Porta (da Cerca Fernandina) que existiu, mais abaixo (uma vez que, à saída da muralha, no Século XV, o mosteiro era o primeiro e solitário edifício, como se pode ver em gravuras da época), bem como na actual rua (já que, das Portas, pouco resta).

Porta chamada de Santo Antão, para além da qual estão as hortas... e, embora não assinalado nas diversas vistas da cidade (esta, a editada por G. Braun), muito provavelmente, o mosteiro de Santo Antão (ao centro no topo da imagem)...

Ainda em época pombalina passou o terreno para a posse da Irmandade do Santíssimo Sacramento, sendo no entanto necessários cerca de 120 anos para a abertura ao culto da Igreja para ali pensada e desejada. À primeira vista parecerá intrigante e misterioso, mas a própria reconstrução pombalina (sob a qual a reconstrução de muitas igrejas teria de ser custeada pelas paróquias e seus fiéis), as invasões francesas, a Guerra Civil e o Liberalismo... explicam em boa medida o atraso.

Como arquitectos são referidos Domingos Parente e José Monteiro, nomes que encontramos associados a um outro edifício da cidade, mais afamado: o da Câmara Municipal de Lisboa, inaugurado três anos antes (após destruição por incêndio do edifício de Eugénio dos Santos, em 1863).