quarta-feira, 14 de março de 2007

Os "grandes portugueses" e Lisboa (1ª parte)

Não vou discutir os fundamentos e a legitimidade que assiste à eleição promovida pela RTP, sobre os "Grandes Portugueses". Da mesma forma evitarei tomar qualquer partido. O objectivo do presente é tão só evidenciar a ligação de cada um dos 10 "Grandes Portugueses" eleitos para a fase final com a cidade de Lisboa, que por ser capital de Portugal, está naturalmente presente na biografia de todos.

Comecemos por saber quem daqueles dez era "alfacinha": dois poetas e dois reis.

Desses quatro, aquele que poderá ser considerado o mais "alfacinha" de todos é Fernando Pessoa, não só porque nasceu e morreu nesta cidade - obviamente - mas por toda a sua vivência e obra, ao ponto de existir uma "Lisboa Pessoana" (que é sem dúvida uma das mais fascinantes, senão a mais fascinante de todas as Lisboas alguma vez concebidas).
Nasceu num prédio no Largo de São Carlos, foi baptizado na Igreja dos Mártires, no Chiado e faleceu no Hospital de São Luís dos Franceses.
Como se não bastasse, ficou a sua figura para sempre "presa" a Lisboa no corpo da famosa estátua que existe no Chiado, n'A Brasileira, que é especialmente popular para fotografias de pose de quase toda a turistada que passa, muita dela porventura sem fazer a mínima idéia de quem se trata. Seria engraçado conhecer a opinião de Pessoa sobre o assunto!
Em Lisboa existe também a casa-museu Fernando Pessoa (Rua Coelho da Rocha), promotora de frequentes actividades culturais e dotada de espólio diverso, onde se incluem pinturas de autores com Almada Negreiros. De referir que, exceptuando a traça exterior e o último quarto onde viveu o poeta, todo o restante do edifício é de arquitectura moderna.

O outro poeta é Luís Vaz de Camões, embora neste caso não haja certeza quanto ao facto de ter nascido em Lisboa, embora seja a naturalidade normalmente sugerida. Certeza há que morreu em Lisboa.
Viveu em pleno a época das Descobertas, tendo viajado por meio mundo em variadas peripécias. Essa vastidão de horizontes justificou a grandeza da sua obra em todos os aspectos, a par do excelente conhecimento das obras de autores clássicos.
Em contrapartida, as estadias de Camões em Lisboa foram sempre atribuladas, entre os píncaros e a miséria, granjeando pelo meio fama de inveterado boémio.
Camões entrou para a toponímia lisboeta já nos finais do século XIX, quando foi inaugurada a sua estátua (magnífica, por sinal) no largo que tem hoje o seu nome, no coração fervilhante daquela parte da cidade (reconhecível até no cinema, como no clássico "O Pai Tirano"). O largo passou mesmo a ser conhecido apenas como "o Camões".
Mais recentemente chegou a estar "o Camões" (isto é, a estátua) fora do lugar, para que se procedesse à construção de um parque de estacionamento subterrâneo (com tanto lugar...). Com as obras descobriram-se vestígios do que já se sabia ter ali existido, como as ruínas do Palácio do Marquês de Marialva, que foi destruído e parcialmente soterrado devido ao terramoto de 1755, e até vestígios de ocupação romana.
É também em Lisboa que está sediado o Instituto Camões, dedicado ao ensino e divulgação da língua portuguesa no Mundo. Lembra o Instituto Cervantes espanhol, mas com uma diferença importante: é que Camões esteve mesmo na maior parte dos sítios onde a língua portuguesa chegou há 500 anos atrás (que ele também a levou!).

(continua)