Voltamos a assuntos de toponímia, desta vez contemplando um dos mais antigos bairros de Lisboa, Alfama. Que o nome terá origem árabe, parece óbvio. E é.
Alfama deriva de "Al-Hama" (ou "al-hamma"), designação que surge de forma mais fiel e com expressiva abundância na vizinha Espanha. De facto, são inúmeras as "Alhamas" do outro lado da fronteira. Estranhamente, em Portugal, apenas se conhece a "Alfama" alfacinha (?)...
O que significa "al-hama"? Segundo apurámos, significa fonte termal ou de águas tépidas. Numa interpretação mais lata e adaptada, poderá significar também "banhos" (ou "banhos termais"). São inúmeros os locais em Espanha em que a associação do nome "Alhama" é justificada precisamente por aquelas circunstâncias.
Então o nome da Alfama lisboeta também se deve à existência de nascentes de águas termais? Hoje em dia, poderá parecer estranho. Mas há algumas décadas atrás, ainda no Séc. XX, seria mais fácil de entender. Com efeito existiam ali várias nascentes (e existem ainda, se bem que soterradas e com menor caudal) das quais brotava água a temperaturas acima do normal e, nalguns casos, com propriedades terapêuticas reconhecidas. Até ao início do século passado existiam mesmo "banhos públicos" para aproveitamento dessas águas. Contudo, dada a precaridade dessas explorações bem como a progressiva contaminação das águas, tais estabelecimentos desapareceram.
De assinalar que há poucos anos (2002) surgiu um projecto para reaproveitamento dessas nascentes, não ignorando até o seu potencial como fonte de energia alternativa (calorífera). Não sabemos como está esse projecto, mas é bem interessante.
Assim sendo, o nome "Alfama" não corresponde ao de bairro ou reduto de densa aglomeração, como alguns defendem.
Como nota final, existe uma "Al-Hamma" em territórios disputados pela Síria e Israel (que a ocupou nos anos 50 do século passado), reputada... pelos seus banhos termais.
|