À laia de advertência, saiba-se que este autor é bastante prudente no que possa dizer respeito aos limites e oportunidades de preservação "física" da memória (seja da vida grandes homens e mulheres da história). A minha "balança" pende quase sempre em favor da defesa do património, não está isso em causa, mas sim uma definição razoável do que pode ou não ser considerado "património". Já lá vamos.
Por outro lado e abordando já mais directamente o assunto em título, também não sou cego entusiasta de certa "defesa" do património que mais não faça do que adiar a sua degradação, preservando-o mas escondendo-o ou até mesmo desvirtuando-o e sacrificando-o à "cultura para os cultos" ou à "preservação de fachada". Por outras palavras, o ter "casas-museu" que não sejam nem uma coisa nem outra (sim, porque ainda se fôrem habitadas mas cuidadas, do mal o menos), não sei muito bem que benefícios (tangíveis ou não) trará aos cidadãos e à cidade. Esporádicos actos de remorso de consciência em vez da preservação e divulgação contínuas?
Apesar do que o acima escrito possa deixar entender, sou contra a demolição da casa onde viveu e faleceu Almeida Garrett. No entanto é bem possível que a fragilidade e considerável incipiência permanente de certas soluções comuns possam ter feito pender a "balança" da CML para o lado contrário. Vem-me à razão outro caso actual, o da Casa Fernando Pessoa. Não me vou alongar sobre o mesmo, mas para certos autarcas poderá ser um descanso que não se descrubram casas, cafés ou bancos de jardim (e afins) por onde tenham passado os ilustres, sob o risco de lá terem de dispender mais umas quantas verbas em nome apenas das paredes antigas (ou só mesmo fachadas).
Isto não conforma apenas uma simples denúncia da ganância pelo vil metal (que o condomínio de luxo, muito obviamente, satisfará de imediato) nem justifica ou desculpa a Câmara Municipal de Lisboa (pelo contrário). O que me intriga e perturba é a inexistência de vontade e capacidade para, após reabilitação, valorizar e divulgar o património cultural associado. Por outra, fazendo bem a coisa, haverá dúvidas entre o valor absoluto e duradouro do dito património e o valor do condomínio? Outra coisa que me faz confusão é que se permita que este tipo de património possa chegar - nas mãos dos seus proprietários - a um estado de degradação tal que não permita senão o seu fim. Não tenho dúvidas que o proprietário, tendo de escolher entre uma oferta da Câmara Municipal e uma dos promotores privados, dificilmente não se decidirá pela dos segundos. Isto se estiver apenas o "encaixe" financeiro em causa. Porque coisas como ordenamento urbano ou preservação da harmonia arquitectónica - mesmo já sem considerar a história subjacente - afinal, de que valem? Porquê valorizar uma rua/zona inteira com património cultural? Cultura, isso come-se?
São os tempos em que vivemos. Cinzentos! Mas há dinheiro para fazer estádios de futebol (e só de futebol - atente-se)...
Por outro lado e abordando já mais directamente o assunto em título, também não sou cego entusiasta de certa "defesa" do património que mais não faça do que adiar a sua degradação, preservando-o mas escondendo-o ou até mesmo desvirtuando-o e sacrificando-o à "cultura para os cultos" ou à "preservação de fachada". Por outras palavras, o ter "casas-museu" que não sejam nem uma coisa nem outra (sim, porque ainda se fôrem habitadas mas cuidadas, do mal o menos), não sei muito bem que benefícios (tangíveis ou não) trará aos cidadãos e à cidade. Esporádicos actos de remorso de consciência em vez da preservação e divulgação contínuas?
Apesar do que o acima escrito possa deixar entender, sou contra a demolição da casa onde viveu e faleceu Almeida Garrett. No entanto é bem possível que a fragilidade e considerável incipiência permanente de certas soluções comuns possam ter feito pender a "balança" da CML para o lado contrário. Vem-me à razão outro caso actual, o da Casa Fernando Pessoa. Não me vou alongar sobre o mesmo, mas para certos autarcas poderá ser um descanso que não se descrubram casas, cafés ou bancos de jardim (e afins) por onde tenham passado os ilustres, sob o risco de lá terem de dispender mais umas quantas verbas em nome apenas das paredes antigas (ou só mesmo fachadas).
Isto não conforma apenas uma simples denúncia da ganância pelo vil metal (que o condomínio de luxo, muito obviamente, satisfará de imediato) nem justifica ou desculpa a Câmara Municipal de Lisboa (pelo contrário). O que me intriga e perturba é a inexistência de vontade e capacidade para, após reabilitação, valorizar e divulgar o património cultural associado. Por outra, fazendo bem a coisa, haverá dúvidas entre o valor absoluto e duradouro do dito património e o valor do condomínio? Outra coisa que me faz confusão é que se permita que este tipo de património possa chegar - nas mãos dos seus proprietários - a um estado de degradação tal que não permita senão o seu fim. Não tenho dúvidas que o proprietário, tendo de escolher entre uma oferta da Câmara Municipal e uma dos promotores privados, dificilmente não se decidirá pela dos segundos. Isto se estiver apenas o "encaixe" financeiro em causa. Porque coisas como ordenamento urbano ou preservação da harmonia arquitectónica - mesmo já sem considerar a história subjacente - afinal, de que valem? Porquê valorizar uma rua/zona inteira com património cultural? Cultura, isso come-se?
São os tempos em que vivemos. Cinzentos! Mas há dinheiro para fazer estádios de futebol (e só de futebol - atente-se)...
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