Arrancou este blogue no dia em que se lembraram (e lembrámos nós também) os 250 anos volvidos sobre a ocorrência do grande terramoto de 1755. Pois bem, na data de hoje e embora muitos o não saibam (ou não sejam recordados, nomeadamente através da comunicação social) cumprem-se 475 anos sobre a ocorrência de um outro terramoto que destruíu Lisboa, o de 1531.
Acontece que esse sismo em pouco ou nada ficou a dever em termos de destruição e mortandade em relação ao de 1755, 224 anos depois (segundo algumas fontes até terá sido mais devastador ainda), sendo que entre uma e outra data se registaram outros sismos de importância considerável.
Porque é que são menos conhecidos os impactos de 1531? Desde logo, pela sua maior distância no tempo, não sendo de menosprezar também a maior facilidade com que a tragédia de 1755 foi difundida por esse mundo fora (considerando uma comunidade estrangeira em maior número ainda).
No entanto e curiosamente o género de impactos até nem foi muito diferente. Já em 1531 houve quem explicasse a tragédia como sendo um castigo "divino". E se podemos pensar que na altura - e ao contrário do sucedido num "enlightened" 1755 - tal tese passou aceite sem reservas, desenganem-se. Nem mais nem menos que o nosso Gil Vicente tomou a iniciativa de refutar (com a "razão", o seu talento e o beneplácito régio) o alarde de um grupo de frades de Santarém que acusava a presença dos judeus em Portugal como motivo da ira de Deus. Este facto não deixa de ser também curioso, uma vez que a expulsão dos judeus, logo transformada em conversão forçada, havia sido decretada 35 anos antes. Eram então perseguidos como "cristãos-novos", pelos vistos ainda em comunidades numerosas (assim foi a versão portuguesa da sua expulsão)...
Ora se em 1531 Deus castigava Lisboa pela impureza dos semitas, em 1755 condenava-se o deboche e liberalidades importadas de Itália ou França. Seria claro de ver, ainda antes de quaisquer avanços sensíveis em sismologia, que a explicação "divina" apenas alimentava mais desgraças para uns quantos infortunados.
Se a informação sobre os danos sofridos em 1531 não é tão completa como aquela que dispomos sobre o sismo de 1755, sabe-se no entanto que os impactos no interior (Ribatejo e Alentejo) foram mais significativos. Aliás o epicentro em 1531, segundo os estudos, terá sido entre Vila Franca de Xira e Azambuja, enquanto que em 1755 crê-se que estivesse localizado no oceano. Também é certo que os principais edifícios de Lisboa tiveram de ser parcialmente reconstruídos ou renovados. Não há notícia de maremoto ou de grandes incêndios em 1531, o que em parte pode explicar também um grau de destruição menos avassalador que em 1755. Como exemplo, o Hospital Real de Todos os Santos, já existente em 1531, só veio a desaparecer em 1755...
Para finalizar, em 1755 como seria lembrado o terramoto de 1531 (224 anos depois) e de que forma tal poderia contribuir (ou não) para uma melhor preparação? Já estaria suficientemente esquecido? E hoje, 250 anos depois do de 1755, estaremos avisados?
Acontece que esse sismo em pouco ou nada ficou a dever em termos de destruição e mortandade em relação ao de 1755, 224 anos depois (segundo algumas fontes até terá sido mais devastador ainda), sendo que entre uma e outra data se registaram outros sismos de importância considerável.
Porque é que são menos conhecidos os impactos de 1531? Desde logo, pela sua maior distância no tempo, não sendo de menosprezar também a maior facilidade com que a tragédia de 1755 foi difundida por esse mundo fora (considerando uma comunidade estrangeira em maior número ainda).
No entanto e curiosamente o género de impactos até nem foi muito diferente. Já em 1531 houve quem explicasse a tragédia como sendo um castigo "divino". E se podemos pensar que na altura - e ao contrário do sucedido num "enlightened" 1755 - tal tese passou aceite sem reservas, desenganem-se. Nem mais nem menos que o nosso Gil Vicente tomou a iniciativa de refutar (com a "razão", o seu talento e o beneplácito régio) o alarde de um grupo de frades de Santarém que acusava a presença dos judeus em Portugal como motivo da ira de Deus. Este facto não deixa de ser também curioso, uma vez que a expulsão dos judeus, logo transformada em conversão forçada, havia sido decretada 35 anos antes. Eram então perseguidos como "cristãos-novos", pelos vistos ainda em comunidades numerosas (assim foi a versão portuguesa da sua expulsão)...
Ora se em 1531 Deus castigava Lisboa pela impureza dos semitas, em 1755 condenava-se o deboche e liberalidades importadas de Itália ou França. Seria claro de ver, ainda antes de quaisquer avanços sensíveis em sismologia, que a explicação "divina" apenas alimentava mais desgraças para uns quantos infortunados.
Se a informação sobre os danos sofridos em 1531 não é tão completa como aquela que dispomos sobre o sismo de 1755, sabe-se no entanto que os impactos no interior (Ribatejo e Alentejo) foram mais significativos. Aliás o epicentro em 1531, segundo os estudos, terá sido entre Vila Franca de Xira e Azambuja, enquanto que em 1755 crê-se que estivesse localizado no oceano. Também é certo que os principais edifícios de Lisboa tiveram de ser parcialmente reconstruídos ou renovados. Não há notícia de maremoto ou de grandes incêndios em 1531, o que em parte pode explicar também um grau de destruição menos avassalador que em 1755. Como exemplo, o Hospital Real de Todos os Santos, já existente em 1531, só veio a desaparecer em 1755...
Para finalizar, em 1755 como seria lembrado o terramoto de 1531 (224 anos depois) e de que forma tal poderia contribuir (ou não) para uma melhor preparação? Já estaria suficientemente esquecido? E hoje, 250 anos depois do de 1755, estaremos avisados?
À laia de advertência, saiba-se que este autor é bastante prudente no que possa dizer respeito aos limites e oportunidades de preservação "física" da memória (seja da vida grandes homens e mulheres da história). A minha "balança" pende quase sempre em favor da defesa do património, não está isso em causa, mas sim uma definição razoável do que pode ou não ser considerado "património". Já lá vamos.